Na Alemanha, manifestantes contestam governo suíço por encontro com o Taleban

Pessoas gritaram slogans contra os talibãs e manifestaram apoio à milícia afegã que combate o grupo, no poder desde agosto de 2021

Dezenas de pessoas, entre elas cidadãos afegãos, se reuniram em frente ao consulado da Suíça em Munique, na Alemanha, no último domingo (13). Elas protestaram contra a decisão do governo suíço de aceitar receber a visita de uma delegação do Taleban. As informações são do site indiano The Print.

No protesto, as pessoas gritaram slogans contra os talibãs e manifestaram apoio `Frente de Resistência Nacional do Afeganistão, uma milícia afegã que combate o grupo radical no poder desde agosto de 2021.

A visita dos talibãs à Suíça, na semana passada, teve encontros com grupos não governamentais e com representantes do Departamento Federal de Relações Internacionais (FDFA, da sigla em inglês) da Suíça.

“O FDFA confirma que o Taleban está em Genebra a convite de uma organização não governamental que busca melhorar a observância das normas e princípios humanitários”, disse a porta-voz do FDFA, Elisa Raggi, de acordo com agência de notícias estatal russa Sputnik.

O objetivo dos encontros foi debater sobretudo a grave crise financeira o país do Oriente Médio, onde boa parte da população não consegue saciar suas necessidades básicas, como comida. Também foram debatidas questões ligadas aos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres e das minorias no país, em função da forte repressão imposta pelos talibãs.

Reunião de líderes do governo talibã no Afeganistão (Foto: twitter.com/IeaOffice)

Por que isso importa?

Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto de 2021, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país, como forma demostrar sua boa vontade. Mas não passou disso.

O país continua marginalizado da comunidade internacional em razão principalmente das acusações de abusos dos direitos humanos e da forte repressão, sobretudo contra mulheres. Tanto que, até agora, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país, apesar da aproximação com países como China e Paquistão.

Mais que legitimar os talibãs internacionalmente, o reconhecimento fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza. Em meio à crise profunda que os afegãos enfrentam, os Estados Unidos liberaram para ajuda humanitária., em fevereiro de 2022, US$ 3,5 bilhões em ativos congelados do Banco Central do Afeganistão em solo norte-americano.

Quando o governo afegão se dissolveu, com altos funcionários deixando o país, incluindo o presidente e o governador interino do banco central, deixou para trás pouco mais de US$ 7 bilhões em ativos depositados no Federal Reserve Bank dos EUA. Como não estava mais claro quem tinha autoridade legal para obter acesso a essa conta, o Fed tornou os fundos indisponíveis para saque.

Washington congelou os fundos afegãos mantidos nos EUA após o grupo islâmico ascender ao poder, em agosto do ano passado. Ultimamente, o governo Biden vinha sendo pressionado a disponibilizar o dinheiro sem reconhecer o regime do Taleban, que alega ser o dono do dinheiro. O valor, então, acabou liberado, com a outra metade destinada a pagar indenizações às vítimas dos ataques de 11 de setembro.

O Afeganistão tem mais US$ 2 bilhões em reservas, depositados em países como Reino Unido, Alemanha, Suíça e Emirados Árabes Unidos. A maioria desses fundos também está congelada. Autoridades norte-americanas relataram ter entrado em contato com aliados para detalhar sua iniciativa, mas Washington foi o primeiro a oferecer um plano sobre como usar os ativos congelados para auxiliar o povo afegão.

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