Protesto em Berlim exibe réplica da solitária de Alexei Navalny em prisão russa

Instalação de 7,5 metros quadrados seria cópia fiel do espaço para onde o oposicionista frequentemente é enviado como punição

Apoiadores de Alexei Navalny, principal rival doméstico do presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizam um inusitado protesto em Berlim desde o início desta semana. Em frente à embaixada russa na capital da Alemanha, eles exibem uma réplica da pequena e fria cela de isolamento solitário para a qual o político é enviado de tempos em tempos como forma de punição.

O envio para a solitária tornou-se um castigo habitual imposto a Navalny pela administração do presídio onde está detido, o IK-6, na região de Vladimir, nas imediações de Moscou. Recentemente, ele revelou que foi mandado para lá pouco antes da virada do ano porque lavou o rosto fora do horário determinado.

De acordo com a rede France 24, a cela tem cerca de 7,5 metros quadrados, e os visitantes podem ser trancados lá dentro por alguns minutos. “Estou impressionada com a força dele, especialmente a força mental”, disse Natalia Busch, que visitou a instalação e disse fazer contribuições regulares à organização de Navalny.

Réplica da cela em que Alexei Navalny é mantido em presídio russo (Foto: montagem/twitter.com/navalny)

A manifestação foi organizada por Oleg Navalny, irmão de Alexei que também chegou a ser preso pelas autoridades russas. De acordo com Kira Yarmysh, porta-voz do rival de Putin e que hoje vive exilada na Finlândia, a obra permanecerá no local até o dia 23 de fevereiro. “Venham ver”, convidou ela através de sua conta no Twitter.

Navalny, cuja conta no Twitter é atualizada por seus aliados, também se manifestou. “Fiquei sabendo da campanha em meu apoio e de eventos em cidades de todo o mundo através de meus advogados. Eu considero isso, é claro, como uma campanha pela libertação de todos os presos políticos na Rússia e em Belarus, sendo meu nome um dos símbolos”.

Segundo ele, tais manifestações reduzem a sensação de solidão, mesmo trancado em um espaço pequeno e sem a perspectiva de ser libertado. “Sentir-se sozinho hoje significa estar quebrado amanhã”, disse ele.

Frio e doenças

O tempo que tem passado na solitária é apenas uma das formas de punição impostas a Navalny. Ele chegou a processar o governo russo alegando que não recebeu botas de inverno, o que alega ser um problema sério devido às baixíssimas temperaturas do inverno local.

“Já se passaram semanas desde que toda a colônia mudou para roupas de inverno, e meus malvados guardas da prisão descaradamente não estão me dando botas de inverno”, disse o político em novembro de 2022.

Devido ao frio e à falta de estrutura para enfrentá-lo, em mais de uma ocasião Navalny disse ter ficado doente. Inclusive, alegou que um preso gripado e com péssima higiene chegou a ser colocado com ele de propósito na solitária para potencializar a punição no final de 2022.

Tais circunstâncias levaram um grupo de médicos russos a publicar uma carta aberta, acompanhada de um abaixo-assinado, exigindo “o fim do abuso” na colônia penal IK-6 e pedindo que tratamento médico adequado fosse oferecido a Navalny. Até esta quarta-feira, (25), 190 especialistas haviam assinado o documento.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do rival, que também passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Nos últimos meses, ele relatou que novos crimes lhe foram imputados, podendo ampliar a detenção para até 30 anos.

De acordo com uma postagem feita no Twitter pela equipe dele, as novas acusações incluem os crimes de promover o terrorismo, apelar publicamente ao extremismo, financiar atividades extremistas e reabilitar o nazismo. Elas estariam relacionadas a vídeos publicados pela equipe no canal de Navalny YouTube.

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