A Rússia planeja implantar o avançado míssil hipersônico Oreshnik em Belarus no segundo semestre de 2025, segundo afirmou o presidente russo Vladimir Putin em reunião com o aliado belarusso Alexander Lukashenko. A arma, equipada com múltiplas ogivas nucleares direcionáveis, é considerada um marco no arsenal russo. As informações são do site The Eurasian Times.
Putin afirmou que o envio do sistema depende da conclusão da produção em série na Rússia, enquanto Lukashenko destacou a importância estratégica da medida. “[Implantar o Oreshnik em Belarus] acalmaria seriamente algumas ‘mentes’ já inclinadas a fazer guerra contra Belarus”, afirmou o autoritário líder.
O anúncio ocorre após um teste bem-sucedido do Oreshnik em novembro, quando o míssil atingiu a cidade ucraniana de Dnipro, reforçando a alegação de Putin de que a arma é “invulnerável” às defesas aéreas atuais. No entanto, especialistas apontam que a produção em massa pode levar anos devido a problemas estruturais na indústria de defesa russa.

Além de fortalecer a capacidade militar, o movimento amplia o controle russo sobre Belarus no contexto do Estado da União, um acordo que visa integrar ainda mais os dois países. Segundo o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), a implantação reflete uma estratégia russa de consolidar sua presença militar em Belarus e reduzir sua soberania.
Desde 2022, Belarus já recebeu sistemas de mísseis Iskander e armamentos nucleares russos. Estima-se que de 2,5 mil a quatro mil mercenários do Wagner Group também estejam estacionados no país, em uma base militar soviética desativada.
O ministro das Relações Exteriores de Belarus, Maxim Ryzhenkov, sugeriu ainda que a presença do Oreshnik fortalecerá a posição do país em futuras negociações com o Ocidente. “Será muito mais fácil”, afirmou ele, minimizando possíveis novas sanções internacionais.
Por sua vez, analistas avaliam que o objetivo principal da Rússia é aprofundar a dependência de Belarus e fortalecer sua posição estratégica na região. “O Kremlin continua avançando em seu esforço estratégico para, de fato, anexar Belarus por meio do quadro do Estado da União”, destacou o ISW.
Aliança Moscou-Minsk
A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia e se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.
A situação levou governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.
Mais que uma aliança, a relação é de submissão belarussa a Moscou, a ponto de o jornalista russo Konstantin Eggert a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW) em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho”. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante.”
O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.
Por sua vez, o então embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou em janeiro de 2023 que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.