Estado Islâmico reivindica ataques no Irã realizados por homens-bomba

O grupo, que atacou a República Islâmica outras vezes no passado, possui uma longa história de rivalidade religiosa e sectária com o país

Nesta quinta-feira (4), o Estado Islâmico (EI) assumiu a responsabilidade pelo ataque com bomba que matou 84 pessoas em Kerman, no Irã. O incidente ocorreu durante uma procissão que caminhava em direção ao túmulo do general iraniano Qassem Soleimani na quarta-feira (3), em uma cerimônia que marcava o quarto aniversário da morte do comandante, causada por um ataque de drone dos EUA em 2020. As informações são do jornal The New York Times.

Em nota, o grupo extremista descreveu o atentado como uma “operação de duplo martírio”, explicando que dois militantes se aproximaram da cerimônia junto ao túmulo de Soleimani e detonaram cintos explosivos em seus corpos “perto do túmulo do líder hipócrita”, que foi chefe da brigada Al-Quds, a elite do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês).

O general iraniano, respeitado e temido em igual proporção, planejou uma aliança de grupos xiitas em toda a região do Oriente Médio, financiada e dirigida pelo regime iraniano. A morte de Soleimani há quatro anos, por ordem do ex-presidente Donald Trump, foi mais um capítulo no histórico de tensões entre o Irã e os Estados Unidos. Teerã retaliou com um ataque de foguetes a uma base iraquiana onde também estavam forças norte-americanas.

Imagem de propaganda veiculada pelo Estado Islâmico em 2015 (Foto: Creative Commons)

No comunicado, o EI identificou os terroristas como Omar al-Mowahid e Sayefulla al-Mujahid. O Irã, liderado por um governo teocrático xiita, tem sido alvo frequente da organização islâmica, que o considera um rival religioso.

Soleimani era tido como um inimigo de peso dos jihadistas por ter desempenhado um papel crucial na resistência ao Estado Islâmico na Síria e no Iraque, estabelecendo uma rede de milícias xiitas na região, visando repelir as ações do grupo extremista. Além disso, o general fortaleceu os esforços do presidente síria Bashar al-Assad contra essa ameaça.

Por conta de diferenças religiosas, o Estado Islâmico ameaçou o Irã inúmeras vezes através do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), um braço afegão da organização terrorista que rivaliza com os talibãs no país. Recentemente, o grupo reivindicou responsabilidade por ataques anteriores na República Islâmica, incluindo um tiroteio em uma mesquita em Shiraz, em outubro de 2022, que resultou na morte de 13 pessoas.

Rixa histórica

O EI, que tem hostilidade em relação ao Irã por motivos religiosos e sectários, justificou os ataques como parte de um antigo conflito entre sunitas e xiitas. O grupo islâmico é uma organização sunita extremista, enquanto Teerã é predominantemente xiita. Essas duas seitas islâmicas têm diferenças teológicas e históricas significativas, que remontam a uma disputa do século VII sobre a liderança da comunidade muçulmana após a morte do profeta Maomé.

A declaração do grupo extremista não identificou qual ramificação regional dos extremistas executou o ataque, algo que também ocorreu em algumas reivindicações anteriores. Ouvido pela agência Associated Press, Aaron Zelin, pesquisador do The Washington Institute for Near East Policy (Instituto Washington para Política no Oriente Médio), um think tank sediado nos EUA, observou que o grupo parece buscar uma resposta do Irã contra Israel, ampliando o conflito com o Hamas para um confronto regional que o Estado Islâmico poderia explorar.

Zelin comparou a abordagem do EI à do personagem Coringa, um icônico vilão fictício das histórias em quadrinhos da DC Comics, querendo ver o mundo em caos, sem se importar com os meios, desde que beneficie o grupo.

Tags: