O Banco Mundial ameaçou suspender o financiamento do Líbano para vacinas contra a Covid-19, informou a Associated Press nesta terça (23). O órgão investiga acusações de que legisladores estariam furando a fila para receber as doses mais cedo.
Até agora, o Banco Mundial aprovou US$ 34 milhões em recursos para vacinas que imunizariam cerca de dois milhões de libaneses. A instituição é a principal financiadora da campanha do país.
Denúncias apontam que ao menos 16 parlamentares furaram a fila da vacinação. No momento, a prioridade é imunizar os profissionais da linha de frente e idosos com mais de 75 anos.
O presidente Michel Aoun, 86, sua esposa e outras dez pessoas de sua equipe também teriam recebido as doses.
“Há pessoas não registradas recebendo as doses e cidadãos não incluídos na primeira fase da campanha”, relatou o presidente da Ordem dos Médicos Libaneses, Sharaf Abu Sharaf. A entidade monitora a campanha de forma independente.
“O Banco Mundial pode suspender o financiamento para vacinas e o apoio a resposta à Covid-19 no Líbano“, disse o diretor regional do Banco Mundial, Saroj Kumar Jha.
Segundo Jha, “[a prática dos fura-filas] pode ser registrada como uma violação dos termos e condições acordados conosco para uma vacinação justa”, tuitou.
O supervisor do plano nacional de imunização, Abdul Rahman Bizri, disse à AP prometeu acompanhar o caso. “O que aconteceu hoje é ultrajante e não deve ser repetido. Não há prioridade política”, disse.
Dependência de ajuda externa
O governo libanês enfrenta uma profunda crise econômica e política. O desgaste se acentuou após a explosão do porto de Beirute, em agosto de 2020 e estima-se que 75% da população terminou o último ano na pobreza após uma contração de até 20% no PIB (Produto Interno Bruto).
Em consequência, a única forma de conseguir as vacinas é com ajuda externa. Até agora, o país recebeu 60 mil doses da farmacêutica alemã Pfizer-BioNTech.
Desde o início da pandemia, o país de seis milhões de habitantes – incluindo um milhão de refugiados sírios – já soma mais de 356 mil contágios confirmados.
Até esta terça-feira, cerca de 4,4 mil pessoas haviam morrido em decorrência do vírus. Em meio ao maior pico de contaminações desde o início da pandemia, o Líbano sofre com hospitais sobrecarregados.