Uma imagem atribuída ao Estado islâmico (EI), postada na última segunda-feira (20) em um fórum virtual, mostra um terrorista encapuzado decapitando o Papai Noel, personagem tradicional do Natal cristão em muitos países do Ocidente. As informações são do site Memri, especializado em noticiar ações de grupos jihadistas.
Na foto, um homem de capuz vermelho e com uma faca ensanguentada na mão segura a cabeça decapitada do Papai Noel. Há, ainda, outras imagens atribuídas a grupos extremistas islâmicos fazendo referências violentas ao Natal. Numa delas, o Hezbollah, do Líbano, reproduz o que seria uma árvore de Nata formada por rifles e capacetes de militares norte-americanos. Em outra, uma caixa de presentes grafada com o ano de 2022 vem acompanhada da mensagem “uma tempestade de mísseis será a surpresa de ano novo”.
“Com o advento das chamadas celebrações politeístas que os incrédulos estão experimentando hoje em dia, enviamos uma mensagem aos nossos irmãos monoteístas na Europa, América, Austrália, Canadá, Rússia e outros países de descrença e apostasia: dizemos a vocês , nossos irmãos monoteístas, vinguem seus irmãos e irmãs que foram mortos e capturados por esses canalhas”, diz o texto que acompanha a imagem do EI. “Ataque os cidadãos de países da coalizão de cruzados com suas facas, atropele-os nas ruas, detone bombas sobre eles e pulverize-os com balas”.
O EI já havia feito campanha semelhante ao menos uma vez, em 2017, também com imagens que remetem a atos violentos contra figuras natalinas, sobretudo o Papai Noel. Sempre acompanhadas de mensagens convocando lobos solitários a agirem violentamente contra os cristãos.
Ameaças aos cristãos
Na semana passada, o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), facção do EI na Nigéria, havia afixado uma série de cartas em locais públicos de uma cidade do nordeste do país africano, nas quais ameaçava empreender uma onda de ataques contra comunidades cristãs durante as festas de final de ano.
Segundo moradores da cidade de Michika, no Estado de Adamawa, as cartas continham ameaças dos extremistas islâmicos de que uma ação violenta ocorreria no período do Natal. Moradores da região se diziam apavorados, argumentando que os extremistas costumam cumprir as ameaças que fazem.
Por que isso importa?
Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.
Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.
Assim, o principal reduto tanto do EI quanto da Al-Qaeda tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global dessas duas organizações, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. Saiba mais.