Belarus condena namorada de dissidente local a seis anos de prisão

Sofia Sapega está presa desde maio de 2021, depois do avião onde viajava com o namorado da Grécia para a Lituânia ter sido desviado e forçado a pousar em Minsk

Em um julgamento fechado, a Justiça de Belarus condenou a estudante russa Sofia Sapega, namorada de um jornalista dissidente belarrusso, a seis anos de prisão, disse na sexta-feira (6) a organização de direitos humanos local Viasna. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

O Tribunal Regional da cidade Grodno declarou Sofia, de 24 anos, culpada de “incitar a inimizade social e a discórdia”, além de receber multa de 175 mil rublos (cerca de US$ 50 mil). Ela também foi responsabilizada pela coleta e divulgação ilegal de informações sobre a vida privada de uma pessoa não identificada, disse a ONG que atua em casos de repressão política.

Em 23 de maio de 2021, Sofia e seu companheiro, Roman Protasevich, estavam em um voo que seguia de Atenas, na Grécia, a Vilnius, na Lituânia. A aeronave foi forçada a pousar em Belarus sob a escolta de jatos da força aérea belarussa. Uma ameaça de bomba foi usada como justificativa para a aterrisagem em Minsk. Ambos foram detidos no episódio, numa ação internacionalmente classificada como “sequestro Estatal”.

Sofia Sapega e Roman Protasevich estão detidos desde maio de 2021 (Foto: Twitter/Reprodução)

Posteriormente, eles foram colocados em prisão domiciliar, de onde aguardariam o julgamento. A prisão gerou protestos internacionais e rendeu novas sanções ocidentais ao país liderado por Aleksandr Lukashenko. Entre elas, a determinação de UE e Reino Unido para que companhias aéreas evitassem o espaço aéreo belarusso.

Em um vídeo vazado para um canal de mídia social pró-Belarus em 2021, Sofia admite ter um canal no Telegram chamado O Livro Negro de Belarus, onde ela publicava dados pessoais de policiais locais acusados ​​de torturar manifestantes da oposição. Opositores ao governo alegam a declaração teria sido supostamente feita sob coação.

A líder da oposição belorussa, Sviatlana Tsikhanouskaya, comentou em sua conta no Twitter a sentença imposta a Sofia, afirmando que a jovem russa se tornou um “dano colateral” e que ninguém deveria “sofrer por causa da ditadura” de Lukashenko.

O advogado de Sofia declarou à rede BBC que ela não planeja apelar da sentença, já que planeja pedir perdão a Lukashenko. Mesmo se for perdoada, ela ainda terá que pagar a multa.

Moscou pouco se manifesta sobre o caso de Sofia, em prisão domiciliar preventiva em Belarus desde junho de 2021.

Protasevich, que cumpre prisão domiciliar e ainda aguarda julgamento, se declarou culpado de “perturbar a ordem pública” nos protestos contrários à sexta reeleição do presidente Aleksander Lukashenko, em agosto de 2020. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), as declarações do jornalista foram obtidas pelo governo belarusso mediante coação. 

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições de 2020.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que há atualmente mais de 800 prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como Lukashenko lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

No final de 2021, Belarus passou a sofrer acusações também da União Europeia (UE), por patrocinar a tentativa de migrantes e deslocados ingressarem no bloco. São expatriados do Oriente Médio, do Sudeste Asiático e da África que tentam cruzar as fronteiras com Polônia, Lituânia e Estônia.

As autoridades belarussas negam as acusações e direcionam ataques à UE, usando como argumento o fato de que Bruxelas não estaria oferecendo passagem segura aos migrantes, que estariam enfrentando um frio congelante enquanto os países medem forças.

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