Reino Unido lança consulta para restringir Huawei nas redes de telecomunicações

Consulta inclui medidas propostas para que as operadoras de banda larga britânicas parem de instalar equipamentos da gigante chinesa

O governo do Reino Unido lançou uma consulta à indústria das telecomunicações visando a controlar o envolvimento da gigante tecnológica chinesa Huawei no país. As medidas propostas buscam garantir a cibersegurança das redes móveis britânicas, ao passo em que a tecnologia 5G vem se tornando cada vez mais presente na infraestrutura nacional e no cotidiano da população.

Em julho de 2020, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, alegando questões de segurança nacional, ordenou o bloqueio da empresa para novas compras de equipamentos utilizados na implantação da rede 5G, exigindo, ainda, a remoção completa de dispositivos já instalados no país até 2027.

Desde então, os provedores locais começaram a retirada da Huawei das redes. Como próximo passo nesse processo, o governo agora é obrigado, com base na nova Lei de Telecomunicações, a consultar as empresas de telecom sobre as medidas propostas que efetivamente irão estabelecer o controle sobre a corporação chinesa.

(Foto: Unsplash)

A resolução do governo britânico foi tomada depois que os EUA impuseram sanções que forçam a multinacional chinesa a usar seus próprios microchips. A decisão de utilizar ou não a Huawei nas redes móveis, aliás, tem colocado a Europa no fogo cruzado da intensa pressão norte-americano para banir o grupo. Washington alega potencial de vazamento de dados e outras brechas de segurança em benefício do governo chinês.

De acordo com a secretária de Cultura, Meios de Comunicação e Esporte do Reino Unido, Nadine Dorries, o governo está comprometido em garantir a segurança e a resiliência das redes telefônicas britânicas e da internet.

“No ano passado, trouxemos novas leis para proteger a infraestrutura do Reino Unido de fornecedores de alto risco e emitimos duras sanções a fornecedores que não atendem aos nossos altos padrões de segurança. Esta consulta marca o próximo passo na remoção dos riscos representados pela Huawei”, disse ela.

Resoluções

As obrigações legais aos provedores de telecomunicações do Reino Unido, sujeitas a consulta, seriam:

– Remover todos os equipamentos Huawei das redes 5G até o final de 2027.
– Não instalar equipamentos Huawei em redes 5G, com efeito imediato após a emissão da direção final.
– Não instalar equipamentos Huawei afetados por sanções em redes full-fiber, com efeito imediato após a emissão da direção. Isso inclui qualquer equipamento para o qual a cadeia de suprimentos ou processo de fabricação tenha sido alterado devido ao impacto das sanções dos EUA.
– Reduzir a participação de equipamentos Huawei para 35% das redes de fibra total e acesso 5G (ou seja, não-núcleo) até 31 de julho de 2023, seis meses depois do anunciado anteriormente devido às dificuldades que os provedores enfrentaram durante a pandemia.
– Remover o equipamento de transmissão intra-core e interoperador de alta taxa de dados da Huawei – hardware que envia dados por uma rede sem processá-los – de todas as redes até 31 de dezembro de 2025.

Por que isso importa?

Há uma desconfiança global que recai sobre a Huawei, baseada em teorias sobre sua proximidade com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar particularmente a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).

Em 2020, parlamentares britânicos afirmaram em um relatório que a Huawei está “fortemente ligada ao Estado e ao PCC, apesar de suas declarações em contrário”. Diante disso, a empresa tem enfrentado crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, EUA e Reino Unido baniram a infraestrutura da companhia por medo de ser usada para espionagem.

As especulações referentes aos produtos de vigilância da Huawei ganharam força no final de 2021 em meio a temores na China e no mundo sobre as consequências do uso maciço do reconhecimento facial e de outros métodos de rastreamento biométrico. E, ao mesmo tempo em que o PCC continua a confiar em tais ferramentas para erradicar a dissidência e manter seu regime de partido único, ele alerta sobre o uso indevido de tecnologias no setor privado.

Em 2021, após pressão de Beijing, a Huawei e outros gigantes da tecnologia foram compelidas a não abusar do reconhecimento facial e de outras ferramentas de vigilância, após uma nova lei de proteção de dados pessoais entrar em vigor. Mas o veto vale apenas para o setor privado. No setor público, o jornal The Washington Post revelou em dezembro que a ligação da Huawei com o aparato chinês de vigilância governamental é maior que o imaginado.

Os dados aparecem em uma apresentação de Power Point que estava disponível no site da empresa e foi removida. Repleto de itens “confidenciais”, o arquivo mostra como a tecnologia da empresa pode ajudar Beijing a identificar indivíduos por voz, monitorar pessoas de interesse, gerenciar reeducação ideológica, organizar cronogramas de trabalho para prisioneiros e rastrear compradores através do reconhecimento facial.

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