Satélite chinês gera falso alerta de ataque aéreo contra Taiwan a poucos dias das eleições

Ministério da Defesa taiwanês fez uma referência imprecisa a um míssil em "alerta presidencial" enviado para os telefones celulares de toda a ilha

Taiwan emitiu um alerta de ataque aéreo em todo o país depois que um satélite chinês sobrevoou o sul da ilha, poucos dias antes de uma eleição crucial. Moradores em todo o território receberam nesta terça-feira (9) uma mensagem de emergência em seus celulares, pedindo para ficarem “atentos à sua segurança”, conforme relatou a rede BBC News.

O denominado “alerta presidencial”, o primeiro dessa natureza após o lançamento de um satélite chinês, ressalta ansiedade iminente à medida que se aproximam as eleições presidenciais e legislativas decisivas, que ocorrerão no sábado (13).

O episódio, que adiciona uma camada de tensão ao pleito, ocorre em um contexto em que a China reivindica Taiwan como parte de seu território, sendo frequentemente acusada de interferir no processo eleitoral da ilha.

Taiwaneses checam seus telefones celulares (Foto: WikiCommons)

Um erro de tradução em inglês na mensagem SMS gerou alarme ao afirmar que “um míssil sobrevoava o espaço aéreo de Taiwan”, conforme relatado pelo jornal Taipei Times. Posteriormente, o ministério pediu desculpas por não ter corrigido a tradução para esclarecer que se tratava de um satélite, e não de um míssil.

Enquanto isso, a CCTV, a principal rede de televisão estatal chinesa, anunciava o lançamento bem-sucedido do satélite Einstein Probe (“Sonda Einstein”), que partiu de Xichang, na província chinesa de Sichuan, às 15h03, horário local.

Em meio a uma atmosfera de nervosismo, as autoridades chinesas vêm intimidando os taiwaneses, reiterando o discurso de que a reunificação com Beijing é inevitável, enquanto coordenam manobras militares nas proximidades da ilha para demonstrar força. 

Com uma população de 23 milhões de habitantes, Taiwan é um elemento central na queda de braço entre China e Estados Unidos pela liderança na Ásia. Especialistas afirmam que o resultado das eleições terá um impacto significativo nas relações entre as duas maiores economias do mundo.

O principal objetivo da China é minar o respaldo ao atual governo representado pelo Partido Progressista Democrático (PPD). Os três principais concorrentes são Lai Ching-te, Hou Yu-ih e Ko Wen-je.

A mensagem com erro de tradução emitida pelo Ministério de Defesa (Foto: X/Reprodução)

O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, classificou o lançamento de um satélite sobre o espaço aéreo taiwanês próximo às eleições como uma atividade de “zona cinzenta”. Ele explicou que o alerta foi emitido devido ao risco de destroços caírem na região, destacando que situações semelhantes já ocorreram no passado.

Oposição critica governo

Eric Chu, líder do principal partido de oposição em Taiwan, acusou o governo de disseminar medo ao usar o termo “míssil” em um alerta, referindo-se ao lançamento de um satélite. O principal nome do Kuomintang (KMT) alega que o Ministério da Defesa está tentando confundir o público com o alerta, considerando a situação inusitada de uma advertência desse tipo para o lançamento de um satélite.

O Einstein Probe, resultado de uma parceria entre a Agência Espacial Europeia (ESA, da sigla em inglês), a Academia Chinesa de Ciências e o Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, tem como propósito “observar fenômenos transitórios misteriosos no universo”, disse a ESA. A missão busca desvendar “aspectos pouco conhecidos e violentos do cosmos”, “comparáveis ao brilho intermitente de fogos de artifício”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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