Taleban demitiu quase 300 agentes de segurança que não deixaram a barba crescer

Os próprios radicais confirmaram a medida, dizendo ainda que 13 mil pessoas foram presas em 2023 acusadas de 'atos imorais'

O Taleban, que desde agosto de 2021 governa o Afeganistão, demitiu 281 agentes de segurança em 2023 sob um insólita justificativa: eles não deixaram a barba crescer. A revelação foi feita pelos próprios radicais através do Ministério da Virtude e Prevenção do Vício, conforme relato da agência Reuters.

De acordo com Mohibullah Mokhlis, diretor de Planejamento e Legislação do Ministério, os homens sem barba foram demitidos com base na interpretação radical que o Taleban faz da lei islâmica.

A medida, entretanto, não chega a surpreender. Em setembro de 2021, ainda no início de seu governo, o Taleban emitiu um decreto prevendo punições para quem se barbeasse. Os barbeiros foram igualmente ameaçados à época caso continuassem a aparar os pelos faciais dos afegãos.

Abdul Ghani Baradar, cofundador do Taleban (Foto: reprodução/facebook.com/foreignofficepk)

Na mesma atualização anual de operações em que anunciou as demissões dos imberbes, o grupo que governa o país afirmou que 13 mil pessoas foram presas no ano passado por “atos imorais”, sem dar maiores detalhes sobre as infrações e sem atualizar a situação dessas pessoas.

Também como parte das medidas repressivas atreladas a questões morais e baseadas na interpretação da lei islâmica, o Taleban diz no documento que mais de 21 mil instrumentos musicais foram destruídos. As autoridades ainda realizaram uma grande operação para apreender filmes considerados “imorais e antiéticos” que eram vendidos nos mercados afegãos.

Mulheres, as maiores vítimas

Desde a tomada do poder central em 20211, o Ministério da Virtude e Prevenção do Vício introduziu a polícia moral em grandes cidades, impondo regras cada vez mais rigorosas. Embora os homens também sejam alvo, com a exigência da barba entre as regras impostas pelos radicais, as mulheres são as maiores vítimas.

A situação das afegãs foi classificada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro de 2023 como “apartheid de gênero”, de acordo com o relator especial sobre a situação de direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett.

Segundo ele, a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país tem o objetivo de excluir as mulheres de todas as facetas da vida. Na ocasião, Bennett pediu ao Taleban que reverta suas “políticas draconianas e misóginas” e lamentou que o Afeganistão tenha se tornado “um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.” 

As restrições impostas às afegãs incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso levou à perda de emprego por muitas mulheres e contribui para o empobrecimento da população. Em julho do ano passado, o Taleban também vetou mulheres de gerenciar salões de beleza, impactando severamente na renda de famílias já afetadas pela crise financeira.

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