Atribuídas a jihadistas, mortes de oito soldados colocam o Togo no mapa do terrorismo

Ataque ocorreu no norte do país, perto da fronteira com Burkina Faso, e deixou 13 feridos. Terrorismo na África foi tema de debate no Marrocos

Um ataque realizado por homens fortemente armados, na quarta-feira (11), terminou com a morte de oito soldados do Togo e deixou 13 militares feridos. A suspeita é de que os autores sejam integrantes de grupos terroristas, o que marcaria a primeira ação mortífera do gênero no país, de acordo com o site The Defense Post.

O ataque ocorreu no norte do Togo, perto da fronteira com Burkina Faso, e nenhum grupo assumiu oficialmente a autoria. Entretanto, devido à localização e às características do ataque, o governo acusou extremistas provenientes de países vizinhos.

Soldado do Togo em missão de paz da ONU, dezembro de 2018 (Foto: Flickr)

“Por volta das 3h GMT (0h em Brasília), uma base operacional avançada em Kpinkankandi foi palco de um violento ataque terrorista por um grupo de indivíduos fortemente armados não identificados. Infelizmente, entre as forças de segurança, oito morreram e 13 ficaram feridos”, disse um comunicado estatal.

As forças armadas togolesas marcam forte presença no norte do país justamente para conter a onda jihadista provenientes de países como Mali, Burkina Faso e Níger. Em novembro do ano passado, os militares conseguiram conter um ataque que terminou sem vítimas.

Combate ao Estado islâmico

Na quarta-feira (11), o Marrocos, em parceira com o governo dos EUA, sediou o encontro da Coalizão Global para Derrotar o Estado Islâmico (EI). A África esteve no centro do debate entre os ministros das Relações Exteriores dos países participantes, devido ao crescimento da ameaça terrorista no continente.

“O EI e outros grupos terroristas frequentemente se apresentam como alternativas ao Estado, por isso é fundamental que trabalhemos com nossos parceiros para aumentar a capacidade do Estado de fornecer serviços e segurança ao seu povo”, disse a subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, segundo a rede Voice of America (VOA).

Entre os temas destacados no encontro esteve o de organizações mercenárias como o Wagner Group, da Rússia, que recentemente firmou um acordo com o governo do Mali para apoiar o exército local no combate ao extremismo. Na visão da Coalizão, tal iniciativa cria mais problemas que apresenta soluções, no que tange ao combate ao terrorismo.

“Os ministros observaram com preocupação a proliferação de atores não estatais, incluindo movimentos separatistas, e a implantação na África de empresas militares privadas que geram desestabilização e maior vulnerabilidade dos Estados africanos, o que, em última análise, favorece o Daesh/EI e outras organizações terroristas e extremistas violentas”, diz comunicado do Departamento de Estado dos EUA.

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, EI e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações para se manterem vivas inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito, sobretudo na África, onde são representadas por grupos afiliados regionais.

Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que a organização dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas na Síria.

Em janeiro deste ano, o exército norte-americano impôs nova derrota ao EI com o anúncio da morte de Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Ele morreu durante uma operação antiterrorismo na Síria, em mais um duro golpe contra o grupo, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.

No caso da Al-Qaeda, além de igualmente manter facções relevantes na África, também ajudou a fortalecer o grupo a tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. De acordo com a ONU (organização das Nações Unidas), o território afegão pode virar um porto seguro para a organização jihadista e suas afiliadas, bem como “potencial ímã para combatentes terroristas de outras regiões viajarem ao país”.

“Não há sinais recentes de que o Taleban tenha tomado medidas para limitar as atividades de combatentes terroristas estrangeiros no país. Pelo contrário, os grupos terroristas gozam de maior liberdade lá do que em qualquer momento da história recente”, diz relatório da ONU publicado em fevereiro deste ano.

O documento destaca, ainda, que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alega que um filho do ex-terrorista Osama Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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