EUA alertam para os riscos do uso de equipamentos chineses de telecomunicação

Subsecretário de Segurança Interna afirma que Beijing poderia usar a tecnologia para "puxar o tapete de toda uma sociedade"

Durante evento em Washington na última sexta-feira (28), o subsecretário de Segurança Interna dos EUA para Estratégia, Política e Planos, Robert Silvers, alertou para a ameaça representada pelos equipamentos chineses dentro da infraestrutura global de telecomunicações. As informações são do jornal Taipei Times.

Em uma conferência sobre cibersegurança, organizada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Silvers disse que as autoridades dos EUA estão pedindo a outros países que evitem o uso desse tipo de equipamento fabricado na China. O objetivo é reduzir os riscos à segurança da informação.

“Pode ser que a tecnologia controlada pelos chineses seja a mais barata disponível, mas também pode ser que essa não seja a conta final a chegar”, disse ele. “O que acontece cinco anos, dez anos depois, quando o governo chinês tiver a capacidade de puxar o tapete de toda a sua sociedade?”.

A visão de Silvers também está relacionada à forte presença no setor da gigante chinesa Huawei, que enfrenta crescente desconfiança global na construção de redes 5G, com sua presença rejeitada em vários países. AustráliaNova ZelândiaCanadá, Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, baniram a infraestrutura da fabricante por medo de que a China possa usá-la para espionagem

Rob Silvers durante conferência de cibersegurança realizada em setembro (Foto: Twitter/Reprodução)
Taiwan na mira

Separadamente, Mark Montgomery, diretor do Centro de Inovação Cibernética e Tecnológica da Fundação para a Defesa das Democracias, foi citado pela versão chinesa da rede Voice of America (VOA News) no sábado (29), dizendo que “o Departamento de Defesa dos EUA deveria ajudar Taiwan a lidar com desafios de cibersegurança”.

Segundo ele, é possível que Beijing não tente um desembarque militar na ilha semiautônoma, como se imagina. Em vez disso, poderia coordenar ataques cibernéticos contra a principal infraestrutura taiwanesa, incluindo suas redes elétrica e de abastecimento de água, além de outros sistemas.

Algo semelhante ocorreu durante a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Na ocasião, em uma estação ferroviária na cidade portuária de Kaohsiung, na parte sul, o sistema foi hackeado, e os monitores que informam o público passaram a exibir uma mensagem chamando Pelosi de “bruxa velha”. 

“A China também pode tentar usar ferramentas cibernéticas para destruir as comunicações por satélite de Taiwan”, acrescentou.

Montgomery assinou como coautor um artigo publicado na sexta-feira (28) pela entidade que representa intitulado The Attack on America’s Future: Cyber-Enabled Economic Warfare (“O Ataque ao Futuro da América: A Guerra Econômica Cibernética”, em tradução literal).

Nele, defende que Washington deve trabalhar com aliados para estabelecer defesas contra ciberataques de “nações agressivas”.

“Os ataques cibernéticos à infraestrutura crítica podem interromper uma mobilização militar dos EUA em defesa de Taiwan ou interferir em outras operações militares dos adversários da China”, disse o artigo, citando informações do livro de James Mulvenon, The People’s Liberation Army in the Information Age (sem tradução para o português). 

Em uma de suas previsões pessimistas, o artigo sustenta que Beijing “pretende assumir o controle da infraestrutura global de informações e comunicações”.

“No conjunto, a China implementou uma estratégia coerente de longo prazo para controlar os principais nós da economia global e da infraestrutura de comunicações – tudo às custas dos Estados Unidos e seus aliados”, diz o texto.

Por que isso importa?

A rejeição à tecnologia chinesa de telecomunicações é baseada na suposta submissão das empresas do setor ao governo. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional, de 2017, segundo a qual companhias chinesas devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçá-las a servir o Partido Comunista Chinês (PCC).

Um caso em particular se enquadra nesse cenário. Em janeiro de 2017, a União Africana descobriu que os servidores de sua sede, na capital etíope Adis Abeba, enviavam diariamente, durante a madrugada, dados sigilosos a um servidor na China e que o prédio estava repleto de microfones escondidos. Os servidores foram trocados, mas um problema semelhante se repetiu em 2020, quando os novos servidores foram invadidos por hackers chineses que roubaram vídeos de vigilância das áreas interna e externa.

Não por coincidência, o prédio havia sido construído com financiamento chinês, por uma construtora chinesa. E os servidores originais, aqueles de 2017, eram chineses. Esse episódio, com o qual Beijing nega ter relação, explica a desconfiança generalizada com a infraestrutura digital proveniente da China.

No centro do debate está a Huawei, que tem aumentado sua presença nas redes globais de telefonia. Inclusive no Brasil, país que vai na contramão da tendência global de veto à companhia, dona de mais de 80% das antenas que retransmitem sinal das atuais redes 2G, 3G e 4G brasileiras. E, de acordo com conteúdo patrocinado publicado em portais como O Globo em maio de 2021, a companhia dizia ser responsável por mais de cem mil quilômetros de fibra óptica no país à época.

Tags: