Classificado pela Bloomberg como o presidente mais controverso da história moderna, Donald Trump mantém a imprevisibilidade ao terminar seu governo à frente dos EUA, nesta quarta-feira (20).
Ainda há pouca ou nenhuma informação sobre os próximos passos do republicano ao deixar a Casa Branca. A única confirmação é que Trump não estará na posse de Joe Biden – o primeiro chefe de Estado a se recusar a comparecer desde Andrew Johnson, em 1869.
O agora ex-presidente encerrou seu mandato com um discurso na base aérea de Andrews, próxima à capital Washington. Na sequência, seguiu viagem para seu resort na Flórida, que estabeleceu como base no estado. “Nós voltaremos, de um jeito ou de outro”, afirmou.
Espera-se que, em curto prazo, Trump responda pelos discursos e circunstâncias que marcaram o dia 6 de janeiro de 2021 na história. Ao incitar um golpe de Estado, apoiadores insatisfeitos com o resultado das eleições invadiram e vandalizaram o Capitólio em cenas até então inimagináveis no grande bastião da democracia no mundo.
A inclusão de um novo pedido de impeachment contra o presidente foi imediato – o segundo em quatro anos. Se condenado no julgamento do Senado, Trump deve ser impedido de concorrer a um cargo federal novamente.
Prejuízo financeiro
A decisão pode afetar seus negócios. Grandes nomes corporativos já evitam o político-empresário nas redes sociais e cortaram serviços profissionais e financeiros de suas corporações em todo o país.
“Milhões de seus concidadãos continuarão a insultá-lo, tornando a marca Trump tóxica para metade do país e prejudicando as perspectivas de seu império imobiliário, hoteleiro e resort de golfe”, prevê uma análise de especialistas à Bloomberg.
Outras dezenas de milhões de norte-americanos, porém, poderão fazer o caminho contrário. A saída da Casa Branca tende a fortalecer sua base de apoio e tornar Trump uma força política por anos – estando ele na Presidência, ou não.
Novas formas de mobilização
O bloqueio de suas redes sociais – esfera onde reuniu a maior parte de seus apoiadores – força Trump a buscar novas formas de mobilização (e de monetização) de seus seguidores leais.
Especialistas observam a possibilidade do republicano se voltar à sua base eleitoral mais conservadora em canais privados ou em sites de mídia que competem com o Twitter.
Mas isso só ocorrerá se o bilionário não for preso – uma possibilidade legal e plausível, dadas as largas batalhas judiciais que deve enfrentar no pós-mandato, além dos acontecimentos no Capitólio.
Atrás das grades
Ainda antes dos confrontos violentos que deixaram cinco pessoas mortas em meio à invasão ao Congresso dos EUA, no dia 6, Trump já enfrentava diversos processos e investigações criminais.
“Há uma possibilidade muito real de que Trump acabe na prisão”, disseram os analistas da Bloomberg. Promotores acusam o ex-apresentador o reality show “O Aprendiz” de obstruir a justiça e de irregularidades no financiamento de suas campanhas.
Na última acusação, seu ex-advogado pessoal, Michael Cohen, foi sentenciado em três anos de prisão. Além disso, investigações apontam para evasão fiscal: em 2016, Trump pagou apenas US$ 750 em impostos, como reportou o jornal norte-americano “The New York Times”.
A conduta pessoal do presidente também está em questão. Testemunhas em dois processos em Nova York o acusam de difamação e agressão sexual.
A ligação vazada com o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, foi um dos últimos capítulos de sua cruzada pessoal para mudar o resultado da eleição de novembro e não reconhecer derrota.
Na conversa, Trump pede que Raffensperger, representante de um governo republicano, “encontre votos” para anular a vitória de Biden – forte indício de uma tentativa de fraude eleitoral. O pedido foi prontamente rejeitado.
Fora da Casa Branca, o bilionário deve ver o governo do democrata pautado em “desfazer” muitas de suas ações políticas e sociais. Mas boa parte delas, Trump terá de enfrentar sozinho.