Por trás das disputas crescentes entre China e Estados Unidos está Miles Yu, chinês de nascimento e o principal conselheiro político do secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo.
Entre as suas primeiras lembranças estão os campos da China rural durante a Revolução Cultural de Mao Tsé-tung, iniciada em 1966 – fator que considera uma das razões principais para a sua já explícita aversão ao Partido Comunista Chinês.
Em entrevista ao jornal “Washington Times“, veículo popular entre expoentes da direita trumpista norte-americana, o professor de 57 anos deixa clara a sua insatisfação com a terra natal.
Nascido na província de Anhui, no leste chinês, o agora consultor sênior de Pompeo cresceu em Chongqing e estudou na prestigiada Universidade Nankai, em Tianjin, no norte da China. Em 1985, migrou para os EUA.
“Cresci na China comunista e agora vivo o meu sonho americano”, disse ele. “Eu realmente acredito no que o [ex-presidente Ronald] Reagan disse: a América representa a última e melhor esperança do homem na terra”.
Doutor pela Universidade da Califórnia, Miles ingressou na Academia Naval dos EUA em 1994, onde lecionou sobre a China moderna e a história militar. Seu histórico, contudo, não é sempre utilizado por Pompeo.
Olhar afiado
O braço direito de Donald Trump em matéria de política externa confia nas análises do professor sobre a China. “Yu me aconselha sobre como podemos garantir e proteger as nossas liberdades em face aos desafios do Partido Comunista”, afirmou Pompeo.
Geralmente calado, Yu é um analista treinado: falante nativo da língua chinesa, o professor é um dos poucos funcionários de alto escalão capaz de entender o idioma e a cultura do governo liderado por Xi Jinping.
Suas prática na compreensão das nuances entre governos democráticos e autoritários, além de fraquezas e forças ocultas de Beijing, o tornaram um “tesouro nacional” entre os pares, afirmou David Stilwell, vice-secretário de Estado.
Yu remete à escola primária para explicar a sua perspicácia nestes assuntos. “A Revolução Cultural marcou a minha vida escolar”, lembrou. “Essas experiências forjaram minha aversão pelo radicalismo e profundo desdém pelos apologistas do Partido Comunista e seus muitos crimes“.
No “sonho americano”, Miles define o regime que comanda a terra natal como um governo de “essência frágil”. “Beijing tem medo do próprio povo. Os chineses não são a China, precisamos que todos entendam isso”, afirmou ao Nikkei Asia.