Ameaças recíprocas aumentam a tensão nuclear na Península da Coreia

Seul afirma que o uso de armas nucleares decretaria o fim do regime de Kim Jong-un em Pyongyang: 'Resposta esmagadora'

A questão nuclear esteve em evidência na Península da Coreia nos últimos dias, com ameaças recíprocas entre os vizinhos. De um lado, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Seok-yeol, advertiu que o eventual uso de armas nucleares decretaria o fim do regime de Kim Jong-un. Do outro, a Coreia do Norte admitiu que a ameaça é maior que nunca, mas culpou Seul e sua aliança com Washington.

O líder sul-coreano aumentou o tom e lançou o alerta em meio à beligerância crescente de Pyongyang e à ampliação dos laços do regime comunista com Moscou.

“Se a Coreia do Norte usar armas nucleares, o seu regime chegará ao fim por uma resposta esmagadora da aliança RC-EUA”, disse Yoon, referindo-se ao nome formal da Coreia do Sul, República da Coreia, de acordo com relato da rede Radio Free Asia (RFA).

O presidente declarou, ainda, que a ampliação do arsenal nuclear de Pyongyang é uma “ameaça existencial” à Coreia do Sul e um “grave desafio” para a paz global.

“Apesar dos repetidos avisos da comunidade internacional ao longo das últimas décadas, a Coreia do Norte tem aprimorado suas capacidades nucleares e de mísseis. Além disso, ameaça descaradamente usar armas nucleares”, prosseguiu.

Cerimônia de posse de Yoon Seok-yeol como presidente da Coreia do Sul (Foto: Republic of Korea/Flickr)

O arsenal nuclear norte-coreano tem atraído atenção redobrada dos vizinhos desde setembro do ano passado, quando Pyongyang fez uma delicada mudança em sua legislação. Com base no novo texto, o país agora pode usar o recurso militar extremo não apenas como mecanismos de dissuasão, mas também de ataque preventivo, a fim de melhorar sua capacidade de retaliação em um eventual confronto.

“O regime norte-coreano deve perceber claramente que as armas nucleares nunca serão capazes de garantir a sua segurança”, disse Yoon, acrescentando que a aliança entre EUA e Coreia do Sul vem sendo ampliada para abraçar também os domínios espacial e cibernético, combatendo assim duas importantes ferramentas usadas por Pyongyang contra seus inimigos.

Resposta norte-coreana

Em discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), na semana passada, Yoon havia criticado o recente encontro entre Kim Jong-un e o presidente russo Vladimir Putin, que ofereceu ajuda a Pyongyang para melhorar sua tecnologia de satélites, usados inclusive para espionar o Ocidente.

Como resposta, na última segunda-feira (25), a Agência Central de Notícias da Coreia do Norte (KCNA) insultou o presidente da Coreia do Sul, chamando-o de “fantoche traidor”, “político inexperiente”, “incompetente” e “idiota diplomático”.

A Coreia do Norte também usou o palanque das Nações Unidas para se dirigir ao vizinho, segundo o site The Defense Post. O embaixador Kim Song culpou a “política bajuladora e humilhante” de Seul, que nas palavras dele “depende de forças externas”. E afirmou que “a Península da Coreia está numa situação premente, com perigo iminente de eclosão de uma guerra nuclear.”

O embaixador ainda condenou a formação do Grupo Consultivo Nuclear (NCG, na sigla em inglês) por Seul e Washington, cujo objetivo é responder à ameaça nuclear norte-coreana. Kim disse que a aliança está “comprometida com o planejamento, a operação e a execução de um ataque nuclear preventivo contra a RPDC”, citando o nome oficial da Coreia do Norte, República Popular Democrática da Coreia.

“Devido à histeria imprudente e contínua do confronto nuclear por parte dos EUA e das suas forças seguidoras, o ano de 2023 foi registado como um ano extremamente perigoso, em que a situação de segurança militar dentro e ao redor da Península da Coreia foi levada para mais perto do limite de uma guerra nuclear”, disse Kim, conforme relatou a agência Associated Press (AP).

Vizinhos e inimigos

A tensão de fato aumentou bastante neste ano. Em fevereiro, a Coreia do Sul chamou a Coreia do Norte de “inimiga” pela primeira vez em seis anos, em seu mais recente “livro branco” de defesa. O documento das forças armadas de Seul alerta justamente para o aumento no estoque de material radioativo para o uso militar por Pyongyang.

O “livro branco” detalha o crescente arsenal de armas nucleares e mísseis do país vizinho, observa que a nação liderada por Kim Jong-un continua com o desenvolvimento contínuo do combustível usado em seu reator e possui cerca de 70 quilos de plutônio para armas, acima dos 50 quilos estimados no relatório anterior.

Justificando a apreensão sul-coreana, o regime de Kim Jong-un realizou no final de agosto um exercício inédito de ocupação completa do país vizinho, como parte de um treinamento militar que incluiu um “exercício de ataque nuclear tático.”

Um relatório descreveu que a missão de ataque nuclear teve sucesso, detonando as armas com precisão, “a uma altura predefinida de 400 metros sobre a ilha alvo.” O exercício simulou “devastadores ataques aos principais centros de comando e bases de aviação em operação” dos “gângsteres militares” sul-coreanos, nas palavras da KCNA.

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