De olho na ameaça militar chinesa, Taiwan recrutará mulheres para as forças armadas

Cerca de 220 mulheres que haviam sido dispensadas serão inseridas em um programa de treinamento no segundo trimestre

O risco de uma invasão militar chinesa levou o governo de Taiwan a mudar novamente as regras de recrutamento militar. Agora, as mulheres serão novamente autorizadas a servir às forças armadas em postos de combate, segundo informações da rede CNN.

De acordo com o Ministério da Defesa, 220 mulheres que haviam sido dispensadas do serviço militar serão autorizadas a ingressar em um programa de treinamento no segundo trimestre deste ano. Será uma experiência temporária que pode ser tornar definitiva, segundo o major-general Yu Wen-cheng.

O argumento para a exclusão das mulheres, fato que tem gerado alegações de discriminação, era justificado pelo governo com base na falta de estrutura para acomodar reservistas dos dois sexos.

Atualmente, as mulheres fazem parte das força armadas de Taiwan e representam 15% do efetivo. Porém, ocupam essencialmente postos que não preveem combate.

Anteriormente, o governo taiwanês já havia decidido ampliar o tempo de serviço militar. Homens acima de 18 anos eram obrigados a cumprir quatro meses de serviço de formação nas forças armadas, período que os críticos comparam a um “acampamento de verão”. A mudança ampliou o tempo para um ano.

O projeto de ampliação inclui treinamento de tiro e manuseio de armamento avançado, com lançadores de mísseis terra-ar Stinger. Os reservistas também receberão instruções de combate com base nas táticas adotadas pelas forças armadas norte-americanas.

Segundo Chieh Chung, pesquisador da National Policy Foundation, um think tank com sede em Taipé, a extensão do serviço militar pode adicionar, a partir de 2027, entre 60 mil e 70 mil combatentes por ano à atual força militar profissional da ilha, que é de 165 mil soldados.

Soldados taiwaneses durante treinamento (Foto: Pxfuel/Divulgação)
Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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