Durante discurso na segunda-feira (15) na Assembleia Popular Suprema, o ditador norte-coreano Kim Jong-un declarou que seu país não vai mais buscar se reconciliar com a Coreia do Sul. Pesando ainda mais o mal-estar diplomático, o líder da fechada nação propôs uma revisão constitucional para eliminar a ideia de coexistência entre os países divididos pela guerra, conforme divulgado pela mídia estatal nesta terça-feira (16) e repercutido pela agência Associated Press.
O gesto significa abrir mão de décadas de esforços por uma unificação pacífica entre as Coreias, sob um contexto de crescentes tensões. Isso porque tanto o desenvolvimento de armas pelo Norte quanto os exercícios militares conjuntos do Sul com os EUA têm se intensificado, gerando acusações mútuas.
Recentemente, Kim propôs outra emenda constitucional para alterar o status de Seul como um Estado separado e inimigo, medida que, em última instância, poderia viabilizar um ataque nuclear de Pyongyang contra Seul.
Ele também sugeriu que a nova constituição deveria afirmar explicitamente que a Coreia do Norte buscaria “ocupar, subjugar e recuperar” a nação vizinha como parte de seu território caso ocorra outra guerra na Península Coreana.
Especialistas indicam que Kim estaria tentando diminuir a influência da Coreia do Sul em questões de segurança regional, buscando negociações diretas com os Estados Unidos sobre o impasse nuclear. As divergências sobre as rigorosas sanções de Washington em resposta ao programa nuclear norte-coreano agravam a situação.
Kim afirmou que, ao definir a Coreia do Sul como uma nação completamente separada e hostil, abandonando a ideia anterior de ser um parceiro na reconciliação e reunificação, torna-se “necessário estabelecer medidas legais” para delimitar precisamente o território soberano do Norte. Ele acrescentou que já não vê os sul-coreanos como parte do “mesmo grupo étnico”, repercutiu a rede Radio Free Europe.
Algumas horas depois, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, reagiu ao pronunciamento de Kim, prometendo que Seul “punirá” o Norte se persistirem nas provocações. Durante uma reunião do gabinete nesta terça-feira (16), Yoon afirmou que as ameaças da Coreia do Norte “já não surtem efeito”, demonstrando uma posição firme contra as táticas intimidadoras de Pyongyang.
A discussão acirrada entre os líderes ocorre loo após a Coreia do Norte ter testado com êxito um míssil balístico de médio alcance de combustível sólido no domingo (14), de acordo com informações da agência estatal KCNA. A ação gerou reações negativas dos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.
O míssil balístico intercontinental de combustível sólido foi projetado para atingir o continente americano e é a arma de longo alcance mais avançada do país.
Idas e vindas
Há quatro anos, o status do relacionamento entre as Coreias era outro. O então presidente sul-coreano, Moon Jae-in, chegou a visitar Pyongyang e participar de um evento oficial.
As idas e vindas das relações bilaterais são tão relevantes porque não há acordo definitivo de paz entre as duas Coreias desde o fim da guerra que dividiu a Península em dois países, nos anos 1950.
Em julho de 1953, foi assinado um armistício pelo comando das Nações Unidas, representado pelo general William K. Harrison Jr. e pelo general Nam Il, preposto dos Exércitos da China e da Coreia do Norte.
O então presidente sul-coreano, Sygman Rhee, não assinou o acordo. Era partidário da ideia de que a Península deveria ser unificada, mesmo que à força, e optou por não ceder.
Em fevereiro de 2023, a Coreia do Sul chamou a Coreia do Norte de “inimiga” pela primeira vez em seis anos em seu “livro branco” de defesa, que aponta para um aumento no estoque de material radioativo para o uso militar de Pyongyang.