Líder palestino manifesta apoio à política abusiva da China contra muçulmanos em Xinjiang

Em declaração conjunta com Xi Jinping, Mahmoud Abbas manifesta "firme" oposição à interferência nos "assuntos internos" de Beijing

O presidente palestino Mahmoud Abbas se manifestou publicamente a favor da China no que tange aos abusos cometidos contra os uigures e outras minorias muçulmanas na região de Xinjiang. Ele assinou uma declaração conjunta com o líder chinês Xi Jinping durante visita a Beijing nesta semana, segundo informa a rede Radio Free Asia (RFA).

“Questões ligadas a Xinjiang não são questões de direitos humanos, mas sim de terrorismo antiviolento, desradicalização e antisseparatismo”, diz o documento. “A Palestina se opõe firmemente à interferência nos assuntos internos da China sob o pretexto de questões relacionadas a Xinjiang.”

A declaração cita ainda o conceito “Uma só China”, que trata Taiwan e Hong Kong como parte da China, e diz que o regime de Xi é o “único governo legal que representa toda a China”.

A visita de Abbas visa a fortalecer o papel da China como pretensa mediadora de um futuro acordo entre Israel e os palestinos que vivem em territórios ocupados, onde são vítimas de inúmeras restrições impostas pelo governo israelense.

Presidentes da Palestina, Mahmoud Abbas, e da China, Xi Jinping, junho de 2023 (Foto: www.fmprc.gov.cn)

Erkin Ekrem, professor associado de política externa da China na Universidade Hacettepe, na Turquia, diz que a posição de Abbas, embora passe por cima dos interesses muçulmanos, é uma forma de conquistar o apoio chinês em outros assuntos de interesse da Palestina.

“Os benefícios que eles podem obter da China superam os ganhos de apoiar os uigures”, disse o analista. “Nesse tipo de situação, a questão dos uigures, apesar de os uigures serem muçulmanos, não é uma prioridade para eles.”

Abbas não é o único líder palestino a agir dessa maneira. A Indonésia, que tem a maior população muçulmana do mundo, é uma nação que segue a mesma linha. “A notícia da mídia ocidental de que o governo chinês não permite que os muçulmanos façam atividades religiosas não é verdadeira”, disse em maio Ben Perkasa Drajat, cônsul-geral indonésio em Guangzhou, durante visita a Xinjiang.

Paquistão e Turquia, igualmente muçulmanos, também enviaram representantes à mesma viagem feita por Drajat, que teve inclusive representantes da diplomacia do Brasil. Na ocasião, Ma Xingrui, secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) em Xinjiang, teria aproveitado o encontro para convocar as nações ali representadas a levantarem “suas vozes justas” contra as acusações de abusos na região.

Por que isso importa?

A província de Xinjiang, que fica no noroeste da China, faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes linguísticas e étnicas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.

O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.

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