Na Europa, chanceler de Taiwan pede colaboração no enfrentamento à China

Turbulência entre a ilha semiautônoma e Beijing é a maior das últimas quatro décadas, em meio ao temor de uma invasão militar chinesa

Em meio a uma incomum viagem à Europa, o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, endereçou na última sexta-feira (29) um pedido aos “países amantes da liberdade” para que trabalhem juntos contra a China. A fala, feita durante um evento organizado por uma aliança que critica a postura global chinesa, funciona como mais um carvão no braseiro do conturbado momento vivido entre Taipé e Beijing, informou matéria da rede KFGO.

A ilha semiautônoma, que convive com a ameaça de uma invasão chinesa, tem feito esforços para se aproximar das democracias da União Europeia (UE),embora não tenha relações diplomáticas com nenhum país do bloco, com exceção da cidade-Estado do Vaticano.

A passagem de um chanceler taiwanês pela Europa é um evento raro, e a viagem de Wu repercutiu em Beijing. A passagem do ministro pela Eslováquia e República Tcheca inclusive rendeu um alerta chinês sobre os riscos de “enfraquecimento das relações bilaterais” devido ao consentimento da visita diplomática de uma autoridade de Taiwan. Temendo retaliações, muitos países têm receio de hospedar ministros vindos da ilha.

Segundo ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, a ilha trava uma batalha contra o autoritarismo (Foto: WikiCommons)

“A ascensão da República Popular da China, liderada pelo Partido Comunista Chinês, é o desafio definitivo para os Estados democráticos do mundo. Isso justifica nosso trabalho mais estreito”, declarou Wu em discurso transmitido online durante uma cúpula realizada em Roma pela Aliança Interparlamentar sobre a China.

O grupo é formado por proeminentes políticos de oito democracias, incluindo os EUA, e foi criado para enfrentar o que consideram uma ameaça: a vertiginosa influência chinesa no contexto do comércio global, segurança e em questões de direitos humanos

De acordo com Wu, Taiwan está na linha de frente de uma batalha ideológica contra o autoritarismo. O diplomata advertiu que um hipotético ataque da China à ilha seria sentido em todo o mundo. “Estamos determinados a nos defender“, garantiu, acrescentando que em outubro as tensões militares com a China chegaram ao seu pior patamar dos últimos 40 anos.

A agenda de Wu incluiu participação em uma conferência na Eslováquia e encontros em Praga com autoridades políticas, entre elas o o presidente do Senado tcheco, Milos Vystrcil, que esteve em Taiwan em 2020, ato diplomático que irritou a China. A passagem da comitiva do ministro coincidiu com a a visita de uma delegação comercial taiwanesa a esses dois países, além da Lituânia, que entregaram lotes de doações de vacinas contra a Covid-19 aos taiwaneses.

A aproximação entre Lituânia e Taiwan, que em 2021 celebraram a abertura de embaixadas em suas capitais, é outro episódio que enfureceu a China. Esquentando ainda mais as coisas, em setembro, a Lituânia desaconselhou seus cidadãos a comprarem telefones celulares chineses, alegando “riscos de segurança de dados cibernéticos e pessoais”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como território chinês.

Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan, e agora habitualmente invadem o espaço aéreo da ilha, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra”.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site norte-americano Business Insider.

O documento, lançado pelo governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do Pentágono.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

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