Três advogados que representaram o opositor russo Alexei Navalny estão enfrentando pedidos de pena de prisão de quase seis anos cada, sob acusações de participação em uma organização extremista. Vadim Kobzev, Igor Sergunin e Alexei Liptser foram presos em outubro de 2023 e, no mês seguinte, adicionados à lista oficial de “terroristas e extremistas”. As informações são da agência Reuters.
Navalny, que morreu em fevereiro deste ano em uma colônia penal no Ártico, havia sido condenado por extremismo e outras acusações, todas negadas por ele. Segundo os promotores, os advogados repassaram informações dele enquanto esteve preso.
Os pedidos de condenação incluem cinco anos e 11 meses de prisão para Kobzev, cinco anos e 10 meses para Liptser, e cinco anos e seis meses para Sergunin, conforme divulgado pelo aliado de Navalny, Ivan Zhdanov, no Telegram.
O julgamento dos advogados ocorre a portas fechadas, sob alegação de risco à segurança, e o veredito deve ser anunciado em breve. A viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, descreveu os acusados como presos políticos em um vídeo publicado no YouTube.
“Eles não cometeram nenhum crime. Estão presos simplesmente por exercerem seu trabalho, que é defender seus clientes, preparar estratégias de defesa, registrar queixas e apresentar recursos”, afirmou.

Organizações de direitos humanos apontam que a prisão dos advogados marca um novo patamar na repressão contra dissidentes na Rússia. Os advogados eram os responsáveis por ajudar Navalny a apresentar ações legais e se comunicar com o público, mesmo encarcerado.
A repressão a Navalny e seus apoiadores faz parte de uma estratégia das autoridades russas para retratá-los como traidores apoiados pelo Ocidente. O Kremlin, no entanto, afirma que não comenta casos judiciais individuais.
Gravações ilegais
Navalnaya revelou que o governo gravou ilegalmente reuniões privadas entre Navalny e seus advogados, uma violação do direito à confidencialidade entre cliente e defensor. As gravações foram obtidas após a equipe de Navalny oferecer uma recompensa para quem fornecesse informações sobre sua morte.
A viúva acusa o presidente Vladimir Putin de ordenar a morte de seu marido, embora ainda não tenha apresentado provas concretas. “Sabemos que o momento do assassinato de Alexei foi capturado por várias câmeras, e estamos oferecendo 10 milhões de rublos a quem entregar as imagens”, declarou.
Controvérsia sobre a causa da morte
O governo russo informou à família de Navalny em agosto que sua morte não apresentou circunstâncias suspeitas, atribuindo-a a uma combinação de doenças e a um aumento crítico da pressão arterial. Navalnaya, no entanto, rejeita essa versão. “Alexei nunca teve problemas cardíacos. A explicação oficial é absurda”, disse ela.
Desde sua morte, Navalnaya tem liderado a luta por um sistema democrático na Rússia, vivendo no exílio e denunciando as ações repressivas do Kremlin contra opositores.
Quem foi Alexei Navalny
Mais proeminente opositor de Putin, Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais e denunciava casos de corrupção envolvendo o governo, o que levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.
Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, um caso de fraude. Os promotores alegaram que ele não se apresentou à polícia justamente quando estava em coma pela dose tóxica.
Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, chegou a fazer uma greve de fome para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais e a Fundação Anticorrupção (FBK) dele de funcionarem, classificando-os como “extremistas”. Julgado e condenado, o oposicionista jamais recuperou a liberdade e mantinha contato com seus seguidores pelas redes sociais, atualizadas por aliados.
A última medida retaliatória do governo contra Navalny foi transferi-lo para a gelada colônia penal IK-3, no Ártico russo, onde ele morreu no dia 16 de fevereiro de 2024. O inimigo número um de Putin desmaiou quando caminhava no pátio, e as tentativas de ressuscitá-lo, segundo os agentes carcerários, foram em vão.
Navalny cumpria pena de 30 anos por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele sempre alegou que as acusações eram politicamente motivadas e frequentemente reclamava do tratamento que recebia no cárcere, dizendo inclusive que sua saúde estava debilitada por isso.
A perseguição de que era vítima levou aliados, grupos de defesa dos direitos humanos, governos estrangeiros e até a ONU (Organização das Nações Unidas) a culparem o governo russo pela morte, alguns usando a palavra “assassinato”.
Após a morte, retomou-se o debate sobre o retorno dele à Rússia, mesmo sabendo que seria preso e possivelmente morto pelo regime. A mulher dele disse que Navalny não pôde optar por uma vida tranquila no exílio porque “amava profundamente” a Rússia e acreditava no potencial do povo russo para um futuro melhor. Alegou ainda que o marido não apenas expressava essas convicções, mas as vivia intensamente, estando até mesmo disposto a sacrificar sua vida por elas.