Sob orientação russa, Belarus realiza manobras com mísseis de capacidade nuclear

Parceria atômica segue a todo vapor, inclusive com mísseis russos Iskander posicionados no território belarusso desde março

As forças armadas de Belarus continuam realizando manobras militares sob a orientação de Moscou, ante à possibilidade de que sejam inseridas de forma ativa na guerra da Ucrânia. Recentemente, inclusive, os militares dos dois países realizaram treinamento com mísseis balísticos do tipo Iskander, com capacidade nuclear, segundo a revista Newsweek.

A confirmação de que russos e belarussos seguem trabalhando juntos partiu do Ministério da Defesa da Rússia, que usou para tanto seu canal no aplicativo de mensagens Telegram.

“Durante o treinamento, atenção especial foi dada ao aprimoramento das habilidades práticas na preparação do sistema de mísseis para uso, treinamento em sua implantação, bem como na condução de lançamentos de treinamento de combate”, diz o post.

O comunicado afirma, ainda, que os militares envolvidos nas manobras estudaram “detalhadamente as questões do conteúdo e uso de munições especiais táticas” e “demonstraram o máximo esforço e excelentes resultados, confirmando assim um alto nível de prontidão para executar as tarefas conforme pretendido”.

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus (Foto: reprodução/twitter.com/MOD_BY)

No final de março, Rússia e Belarus haviam anunciado que armas nucleares táticas seriam posicionadas na fronteira belarussa com países que integram a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

“Isso será feito apesar do barulho na Europa e nos Estados Unidos”, disse na ocasião, em entrevista à televisão estatal belarussa, Boris Gryzlov, embaixador russo em Minsk. Segundo ele, a medida é uma forma de “garantir a segurança” das duas nações.

Belarus faz fronteira com três países-membros da Otan, LituâniaLetônia e Polônia. Entretanto, Moscou e Minsk não deixaram claro onde as armas seriam posicionadas. Ao anunciar a decisão, Putin afirmou que os mísseis Iskander já haviam começado a ser transportados para Belarus, enquanto Gryzlov projetou que o processo seria concluído até o dia 1º de julho.

Antes disso, em agosto de 2022, o presidente belarusso Alexander Lukashenko revelou que as forças armadas belarussas haviam modificado seus aviões militares SU-24 para pudessem carregar armamento nuclear.

Considerando que Belarus não tem arsenal nuclear, os aviões seriam usados para transportar armamento de Moscou. A decisão foi igualmente tomada em parceria entre Lukashenko e Putin, que são aliados.

O arsenal a serviço de Belarus é de armas nucleares táticas, que têm alcance reduzido, com precipitação radioativa limitada a cerca de um quilômetro. Diferente das armas nucleares estratégicas, capazes de destruir cidades inteiras, como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, as táticas servem para aniquilar posições estratégicas do inimigo.

Calcula-se que a Rússia tenha à disposição de suas forças armadas cerca de 1,9 mil ogivas nucleares táticas, o maior arsenal do tipo no mundo. Tais armas podem ser disparadas pela maioria dos jatos das forças armadas russas, bem como por lançadores de foguetes e mísseis convencionais.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW), em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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