Heineken vende operações na Rússia por um euro e amarga perda milionária

Cervejaria levou quase 18 meses para repassar suas operações a um grupo russo e acabou aceitando um valor simbólico

A cervejaria Heineken, que em março do ano passado anunciou a intenção de vender seus negócios na Rússia devido à invasão da Ucrânia, chegou a um acordo nesse sentido. Nesta sexta-feira (25), a empresa da Holanda anunciou a venda de suas operações pelo valor simbólico de um euro (R$ 5,2). As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

Dolf van den Brink, presidente-executivo, admitiu que o processo de liquidação da operação demorou mais tempo que o esperado. “Desenvolvimentos recentes demonstram os desafios significativos enfrentados pelas grandes empresas industriais ao saírem da Rússia”, disse ele em comunicado.

A compra foi fechada pelo grupo russo Arnest, como já se tornou padrão no processo de êxodo ocidental desde a invasão russa à Ucrânia. Em função do valor simbólico firmado para a venda, o cálculo é de que a Heineken tenha perdido 300 milhões de euros no negócio.

O acordo prevê ainda que os atuais funcionários da cervejaria terão seus empregos garantidos por ao menos mais três anos. A preocupação com os colaboradores foi um argumento usado pela empresa para justificar a demora em encerrar as operações definitivamente, embora a cerveja Heineken já não seja oficialmente vendida na Rússia desde 2022.

Garrafas de cerveja Heineken: fora da Rússia em função da guerra (Foto: Creative Commons)
Por que isso importa?

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral. São companhias que querem evitar o risco de desobedecer as sanções ocidentais, ou mesmo a reação negativa da opinião pública caso continuem a lucrar no mercado russo. O levantamento foi feito pela Universidade de Yale, nos EUA.

A debandada prejudica o consumidor local, privado de produtos de setores diversos, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e geração de energia.

No setor de alimentação, o McDonald’s vendeu seu negócio no país a um empresário russo. Ao fim de 2021, a rede tinha 847 lojas no país. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas eram operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação respondia por 9% da receita global da empresa.

Loja do McDonald’s na Rússia (Foto: Wikimedia Commons)

Uma situação que causou problemas sérios aos russos foi o fim dos serviços das companhias de cartões de crédito MastercardVisa. Cartões emitidos na Rússia deixaram de ser aceitos no exterior, o que atrapalhou turistas provenientes da Russia. No ano passado, um grupo deles foi impedido de deixar a Tailândia por problemas com voos cancelados e cartões bloqueados.

No setor de vestuário, quem anunciou estar deixando o mercado russo é a Levi’s, sob o argumento de que quaisquer considerações comerciais “são claramente secundárias em relação ao sofrimento humano experimentado por tantos”. Nike e Adidas também suspenderam todas as operações no mercado russo. A sueca Ikea, gigante do setor de móveis, é outra que decidiu deixar a Rússia em função da guerra.

Nas áreas de entretenimento e tecnologia, alguns gigantes também optaram por suspender as vendas de produtos e serviços no país de Vladimir Putin. A Netflix interrompeu seus serviços e cancelou todos os projetos e aquisições na Rússia, enquanto WarnerDisney e Sony adiaram os lançamentos de suas novas produções no país. Já a Apple excluiu os aplicativos das empresas estatais russas de mídia RT e Sputnik e disse que não mais venderá seus produtos, como iPhonesiPads, em território russo. Panasonic, Microsoft, NokiaEricsson e Samsung são outras que optaram por encerrar as operações no país.

Tags: