Lukashenko diz que não hesitaria em usar armas nucleares russas para se defender

Comentários ousados do líder belarusso contradizem declarações anteriores do presidente russo, Vladimir Putin

Na terça-feira (13), o ditador belarusso Alexander Lukashenko afirmou que seu país receberia armas nucleares táticas russas em questão de “dias”. Além disso, alertou que não hesitaria em dar o sinal verde para sua utilização caso Belarus enfrentasse uma agressão. As informações são da agência Associated Press.

As declarações ousadas de Lukashenko estão em desarmonia com falas anteriores do presidente russo, Vladimir Putin, que havia afirmado que tais armamentos seriam enviados para o país aliado no próximo mês, assim que as instalações de armazenamento estivessem preparadas. Mas deixou claro que elas permaneceriam sob o controle exclusivo de Moscou.

No início deste ano, Putin anunciou seus planos de enviar armas nucleares de curto alcance para a Belarus. Esse movimento foi interpretado como um alerta ao Ocidente, especialmente devido ao aumento do apoio militar à Ucrânia.

Durante sua reunião na sexta-feira (9) com Lukashenko, o chefe do Kremlin informou que a construção das instalações para essas armas será concluída entre 7 e 8 de julho. Logo em seguida, elas serão transferidas para o território belarusso.

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus (Foto: reprodução/twitter.com/MOD_BY)

Na terça-feira, o assim chamado “último ditador da Europa” afirmou que tudo está preparado para a implantação das armas nucleares russas, e ele acredita que conseguirão realizar esse pedido em apenas alguns dias, talvez até mais rápido.

Respondendo à TV estatal russa se Minsk já havia recebido alguma das armas nucleares, Lukashenko respondeu de forma cautelosa, dizendo que “não todas”, mas “gradualmente”.

Ele afirmou que possuem mísseis e bombas da Rússia, destacando que as armas nucleares russas a serem implantadas em Belarus são três vezes mais poderosas do que as bombas atômicas lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.

Em comentários divulgados por seu gabinete na terça-feira, Lukashenko declarou: “Deus me livre de tomar a decisão de usar essas armas hoje, mas não hesitaria se enfrentarmos uma agressão”.

Em declarações transmitidas pela TV estatal russa na terça-feira, Lukashenko deixou claro que consultaria Putin antes de utilizar qualquer uma das armas nucleares.

Ele enfatizou a estreita relação entre eles, dizendo: “Se uma guerra começar, você acha que vou hesitar? Eu atendo o telefone e, onde quer que ele esteja, ele atende”.

Lukashenko referia-se a Putin, afirmando que responderia a qualquer chamada dele a qualquer hora. Ele destacou a importância da coordenação entre eles caso seja necessário lançar um ataque.

O Kremlin não se manifestou sobre os comentários do presidente belaruso.

“Armas de dissuasão”

Lukashenko reforçou que foi ele quem solicitou a Putin a implantação das armas nucleares russas em Belarus. Ele argumentou que essa medida era necessária para evitar possíveis agressões.

Ele afirmou: “Acredito que ninguém estaria disposto a entrar em conflito com um país que possui esse tipo de armamento. São armas de dissuasão”.

As armas nucleares táticas têm a finalidade de destruir tropas e armas inimigas no campo de batalha. Elas possuem um alcance limitado e uma capacidade de destruição muito menor se comparadas às ogivas nucleares instaladas em mísseis balísticos intercontinentais, que têm potencial para devastar cidades inteiras.

Lukashenko afirmou que Minsk não necessita do desdobramento de armas nucleares estratégicas russas em seu território. Ele declarou: “Eu irei lutar contra os Estados Unidos? Não”.

Moscou não divulgou a quantidade exata de armas nucleares táticas que seriam enviadas para a Bielo-Rússia. De acordo com informações do governo dos EUA, estima-se que a Rússia possua cerca de 2.000 armas nucleares táticas, que englobam desde bombas a serem transportadas por aeronaves até ogivas para mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW), em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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