ONU reforça suspeita de que crianças ucranianas são transferidas à força para Rússia

Mais de 1,8 mil crianças foram transferidas para a Rússia em julho, segunda a embaixadora dos EUA Linda Thomas-Greenfield

A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou na quarta-feira (7) que existem razões concretas para acreditar que menores ucranianos estão sendo levados à força para a Rússia, desacompanhados e sem a realização de qualquer procedimento legal. A denúncia, que vem sendo feita há meses por governos e entidades, foi apresentada ao Conselho de Segurança. As informações são da agência catari Al Jazeera.

Ilze Brands Kehris, secretária-geral adjunta para direitos humano na ONU, falou ao Conselho e destacou que os menores são enviados “desacompanhados aos territórios ocupados pela Rússia ou à própria Federação Russa”.

“Estamos preocupados que as autoridades russas tenham adotado um procedimento simplificado para conceder a cidadania russa a crianças sem cuidados parentais e que essas crianças sejam elegíveis para adoção por famílias russas”, afirmou a secretária-geral adjunta.

Ela citou ainda um processo de “filtragem” realizado pelas forças russas, na qual ucranianos em territórios ocupados são submetidos a verificações sistemáticas de segurança que envolvem “numerosas” violações de direitos humanos. Meninas e mulheres são as mais prejudicadas devido aos riscos de abuso sexual.

“Nos casos que nosso escritório documentou, durante a ‘filtragem’, as forças armadas russas e grupos armados afiliados submeteram pessoas a revistas corporais, às vezes envolvendo nudez forçada e interrogatórios detalhados sobre antecedentes pessoais, laços familiares, visões políticas e lealdades do indivíduo em questão”, disse Kehris.

Crianças ucranianas que fugiram para a Romênia com a avó (Foto: Unicef/Ioana Moldovan)

Dados divulgados por Washington, que analisou inclusive estatísticas fornecidas pelo governo russo, estimam que entre 900 mil e 1,6 milhão de ucranianos já foram detidos e deportados à força ao longo da guerra, que teve início no dia 24 de fevereiro.

Já a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que mais de 1,8 mil crianças foram transferidas para a Rússia somente em julho. “Algumas crianças foram separadas de suas famílias e levadas de orfanatos antes de serem colocadas para adoção na Rússia”, afirmou ela.

O embaixador russo na ONU, Asily Nebenzyaem, classificou a acusação como “infundada” e disse que esta é uma tentativa do Ocidente de manchar a reputação do país dele. “Até onde podemos julgar, procedimentos semelhantes são aplicados na Polônia e em outros países da União Europeia (UE) contra refugiados ucranianos”, disse.

Denúncias anteriores

A manifestação da ONU ocorre uma semana após a ONG Human Rights Watch (HRW) denunciar o processo de deportação forçada, através de um relatório de 71 páginas divulgado em 1º de setembro.

O documento se baseia em entrevistas feitas com 54 pessoas que “foram para a Rússia, passaram por filtragem, tiveram familiares ou amigos que foram transferidos para a Rússia ou que apoiaram ucranianos tentando deixar a Rússia“. A maioria dos casos é de indivíduos que fugiram de Mariupol, na região ocupada de Donetsk, e de Kharkiv, também no leste e perto da fronteira com o território russo.

Segundo a HRW, há relatos de que os indivíduos reprovados na “filtragem” feita pelos russos, sobretudo por suspeita de ligação com as forças ucranianas, vão para campos de detenção, entre eles a prisão de Olenivka, onde 50 prisioneiros de guerra morreram após uma explosão em 29 de julho.

O governo norte-americano também havia denunciado tal prática em julho, através de um comunicado do chefe da diplomacia norte-americana Antony Blinken publicado no site do Departamento de Estado. Ele disse na ocasião que os cidadãos ucranianos são coagidos “a assinar acordos para permanecer na Rússia, dificultando sua capacidade de retornar livremente para casa”.

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