Para a ativista de direitos humanos yazidi e vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2018, Nadia Murad, não há “vontade política coletiva” para fornecer recursos e tirar comunidades da violência, em especial a sexual.
Segundo Murad, há uma relutância internacional em se engajar no auxílio ao povo yazidi, do norte do Iraque, vítima de genocídio pelo autodenominado Estado Islâmico.
A fala foi destaque em um evento online pelo fim da violência sexual e de gênero no último dia 26 de setembro. “Temos a capacidade de fornecer recursos às comunidades destruídas pela violência, mas simplesmente não há vontade política coletiva para fazê-lo”, pontuou.
Em um relatório do dia 30 de julho, a Anistia Internacional denunciou inúmeros abusos contra as crianças da etnia. Depois de serem sequestradas, elas são torturadas, forçadas a lutar na guerra, estupradas e sujeitas a inúmeros outros abusos pelo grupo extremista.
Estima-se que mais de 2,8 mil crianças e mulheres estejam com o grupo. Segundo Murad, nem o governo iraquiano ou as Nações Unidas procuraram pelos desaparecidos. “A comunidade global nos abandonou”, disse.
Além disso, a terra natal do grupo étnico, Sinjar, está completamente destruída e não há qualquer esforço para reconstruí-la. “Centenas de yazidis são forçados a deslocarem-se dentro do próprio país e as condições são cada vez mais perigosas“, afirmou Murad.
Violência sexual como crime de guerra
O genocídio contra o povo yazidi começou ainda em 2014 e tem como principal característica o sequestro e venda de mulheres e crianças como escravos sexuais. Agora, Murad pede aos sobreviventes que desempenhem um papel ativo no processo de construção de paz.
“Os sobreviventes sabem melhor que ninguém do que precisam para se curar e se recuperar”, disse a ativista. Murad lidera o Fundo Global para Sobreviventes, projeto que lançou junto do Código Murad para coletar informações sobre sobreviventes de violência sexual em conflitos.
“Yazidis e outras comunidades destruídas pela violência merecem apoio internacional”, pontuou ela. “Cabe ao Iraque e aos países julgar os perpetradores do Estado Islâmico por crimes contra a humanidade“.