‘Águas do Nilo são intocáveis’, diz líder do Egito, em nova disputa com a Etiópia

Cairo ameaçou 'instabilidade regional' caso a Etiópia siga enchendo barragem sem um acordo com o Egito e o Sudão

O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sissi, afirmou nesta terça (30) que as águas do Nilo são “intocáveis” – um aviso direto à Etiópia, que mantém a construção da Barragem da Renascença no principal afluente do rio.

A afirmação abre um novo capítulo no impasse das negociações sobre a barragem entre os países da Bacia do Nilo, que também inclui o Sudão. Em entrevista coletiva, Al-Sisi alertou sobre a “instabilidade regional” caso a Barragem da Renascença passe a operar sem um acordo legal entre os países.

“Ninguém pode tirar uma gota d’água do Egito. Quem quiser experimentar, deixe-o tentar”, ameaçou o presidente egípcio em registro da agência catari Al-Jazeera. O governo em Adis Abeba não foi citado diretamente, mas comentário é o mais forte de um oficial do país sobre as negociações.

"Águas do Nilo são intocáveis", diz líder do Egito em nova disputa com a Etiópia
Registro da Grande Barragem da Renascença, na Etiópia, em março de 2020 (Foto: Reprodução/Facebook/Grand Ethiopian Renaissance Dam)

O projeto, situado no oeste da Etiópia, é tema de controvérsia desde que Adis Abeba iniciou o projeto de US$ 4 bilhões, em 2011. Com as negociações atravancadas, o governo etíope começou a encher a barragem de forma unilateral em julho do ano passado.

Al-Sisi afirmou que o Egito priorizará o diálogo para resolver o impasse. Cairo busca um acordo com base nas leis e normas internacionais que regem os rios transfronteiriços e deve levar novas proposições à próxima rodada de negociações, nas próximas semanas. O presidente egípcio não deu detalhes sobre a data ou a mediação do acordo.

Reivindicações

Os governos do Egito e do Sudão entendem que a Etiópia não deve dar início ao enchimento da barragem sem antes chegarem a um consenso. O enchimento do reservatório, de 74 bilhões de metros cúbicos, afeta diretamente o meio ambiente e a já escassa oferta de água às populações egípcia e sudanesa.

Para o Egito, que depende do Nilo para cerca de 97% de sua irrigação e água potável, vê a barragem como uma ameaça existencial. Já o Sudão teria as próprias barragens comprometidas caso a Etiópia prossiga com o abastecimento.

A questão energética também afeta os países. O Nilo é o rio mais longo do mundo e garante água e eletricidade aos dez países que atravessa. A barragem garantiria acesso a energia hidrelétrica a mais de 110 milhões de habitantes – processo que transformaria a Etiópia no principal exportador de energia da África.

Tags: