Sudoeste do Níger tem segundo ataque em dez dias, com morte de seis militares

Governo afirmou que uma missão de escolta das Forças Armadas do país foi emboscada por um "grupo de terroristas"

Seis soldados do exército do Níger foram mortos em um ataque realizado na última quinta-feira (24) na região de Tillaberi, no sudoeste do país. Foi o segundo caso de violência registrado em um intervalo de dez dias, de acordo com o Ministério da Defesa do país, rompendo um período de relativa calmaria na violenta região. As informações são da rede Voice of America (VOA).

“Uma missão de escolta das Forças Armadas do Níger foi emboscada por um grupo de terroristas armados nas proximidades da vila de Kolmane”, disse um comunicado emitido pelo ministério, que informou “seis soldados mortos, um ferido e um veículo destruído”, além de citar baixas “não determinadas” entre os agressores.

O outro ataque

Na semana anterior, ao menos 21 pessoas morreram em um ataque contra um ônibus e um caminhão, igualmente em Tillaberi. Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria daquela ação, as forças de segurança locais responsabilizam jihadistas.

“Um ataque terrorista na tarde de quarta-feira (16) por homens fortemente armados, viajando em motocicletas e em um veículo, matou 19 pessoas que viajavam em um ônibus, incluindo dois policiais”, disse uma fonte de segurança que não quer ser identificada. “Outras duas pessoas morreram em um ataque a um caminhão”.

Os dois veículos foram incendiados no ataque, e foi o fogo que provocou a morte dos dois ocupantes do caminhão no ataque do dia 16 de fevereiro. No caso do ônibus, sete pessoas conseguiram escapar, sendo que cinco ficaram feridas e foram levadas à capital Niamei.

Rebeldes extremistas na região de Tillaberi, no Níger (Foto: Wikimedia Commons)

Por que isso importa?

No Níger, o epicentro da violência é a região de Tillaberi, um dos principais palcos da onda jihadista que tomou o Sahel Central. A violência aprofunda os desafios de segurança enfrentados pelo presidente Mohamed Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021.

Bazoum ocupa o lugar de Mahamadou Issoufou, que esteve à frente do governo desde 2011 e deixou o poder após dois mandatos, na primeira transição presidencial pacífica do país desde a independência da França, em 1960.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), ainda luta contra o alastramento do Boko Haram e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), da Nigéria, que avançam sobre o sudeste do país.

Principal facção extremista da Nigéria, o Boko Haram passou a colecionar derrotas ultimamente, com a neutralização de seus líderes por parte das forças de segurança nigerianas. Em junho do ano passado, militantes do grupo jihadista gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante. Essas derrotas levaram o grupo se movimentar mais e, assim, chegar ao Níger, distante do enfrentamento com o exército nigeriano.

Já o ISWAP, formado por dissidentes do Boko Haram, se afastou de Shekau em 2016 e passou a se concentrar em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive contra trabalhadores humanitários. Depois da morte de Shekau, acredita-se que houve uma aproximação entre os dois grupos, sendo o maior indício dessa aliança a realização de ataques contra organizações militares por combatentes suspeitos de integrarem ambas as facções.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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