EUA e Iraque renovam compromisso de segurança e cooperação militar

Washington e Bagdá têm planos para fortalecer sua parceria, focada principalmente na luta contra o Estado Islâmico

Os Estados Unidos e o Iraque reafirmaram o compromisso de fortalecer o diálogo, a segurança e a cooperação militar. Isso foi expresso em um comunicado divulgado na quarta-feira (9) pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD, da sigla em inglês), após um diálogo de cooperação de segurança de dois dias entre o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa iraquiano, Thabit Muhammad Al-Abassi, realizado em Washington.

Austin destacou que o diálogo reflete o aprofundamento da parceria estratégica baseada no Diálogo Estratégico EUA-Iraque de julho de 2021, quando as forças de combate dos EUA encerraram sua missão ao anunciarem a destruição do “califado” territorial dos extremistas. Ele afirmou que os laços continuarão a crescer após a derrota do grupo terrorista Estado Islâmico (EI).

Segundo a agência oficial de notícias iraquiana, Bagdá “está comprometida em proteger o pessoal e assessores americanos, bem como instalações diplomáticas e comboios da coalizão internacional”.

Pentágono, em Washington D.C, sede do Departamento de Defesa (Foto: Pixabay/12091)

As delegações que participaram do diálogo expressaram sua intenção de realizar futuros diálogos conjuntos de cooperação em segurança e reuniões relacionadas para abordar a ameaça em evolução da organização extremista.

Ambas as delegações concordaram em fortalecer as capacidades de segurança e defesa do Iraque, visando avançar nos interesses comuns de ambos os países na segurança, soberania e estabilidade regional.

Em 26 de julho de 2021, Bagdá e Washington alcançaram um acordo para a retirada das forças de combate dos EUA do Iraque até o final daquele ano. Um contingente limitado permaneceu para fornecer aconselhamento e treinamento às forças iraquianas.

De acordo com avaliações dos Estados Unidos, o número de combatentes do EI no Iraque foi reduzido para menos de mil e a liderança do grupo no país tem sido constantemente enfraquecida pelas forças iraquianas.

Atualmente, aproximadamente 2.500 soldados dos Estados Unidos estão no Iraque com a responsabilidade de aconselhar e apoiar as forças de segurança locais na busca pelos remanescentes do Estado Islâmico.

Por que isso importa?

Embora ainda seja relevante no cenário extremista global, o EI tem se enfraquecido financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro do ano passado, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também foi um desafio, pois impedia as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumentou as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Um risco que o grupo ainda oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los às nações de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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