Facção da Al-Qaeda na Síria é inserida na lista dos EUA de organizações terroristas

KTJ é acusado de ser uma facção da Al-Qaeda e de atuar com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), cujo líder é um terrorista procurado

O Departamento de Estado norte-americano anunciou na última segunda-feira (7) a inclusão do grupo Katibat al Tawhid wal Jihad (KTJ), que atua em Idlib, na Síria, a sua lista global de organizações terroristas.

Washington acusa o KTJ de ser uma facção da Al-Qaeda. O grupo atuaria em parceira com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), liderado por Abu Mohammed al-Golani, terrorista procurado pelo governo dos EUA e que tem buscado uma aproximação com o Ocidente, aproveitando o fato de que é inimigo do governo sírio, este apoiado por Rússia e Irã.

“Além de se envolver em atividades terroristas na Síria, o KTJ também foi responsável por realizar ataques externos, como o ataque ao metrô de São Petersburgo, em abril de 2017, que matou 14 passageiros e feriu outros 50, bem como um carro-bomba suicida na Embaixada da China em Bishkek, Quirguistão, em agosto de 2016, que feriu três pessoas”, diz o Departamento de Estado.

Destroços deixados por bombardeio em Idlib, Síria, setembro de 2019 (Foto: UN Photo/Omar Haj Kadour)

Inserido na relação, o KTJ também vira alvo de sanções financeiras, que congelam eventuais ativos que o grupo venha a ter nos Estados Unidos, impedindo que cidadãos ou empresas norte-americanos negociem com eles. Mesmo empresas e indivíduos estrangeiros ficam sujeitos a possíveis penalidades caso venham a firmar acordos comerciais com os sancionados.

“As designações de indivíduos e grupos terroristas os expõem e isolam e lhes negam o acesso aos recursos de que necessitam para realizar os ataques. Além disso, as designações podem auxiliar as ações de aplicação da lei de outras agências e governos dos EUA”, diz o comunicado do governo que anunciou as sanções.

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações para se manterem vivas inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito, sobretudo na África, onde são representadas por grupos afiliados regionais.

Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que a organização dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas na Síria.

Em janeiro deste ano, o exército norte-americano impôs nova derrota ao EI com o anúncio da morte de Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Ele morreu durante uma operação antiterrorismo na Síria, em mais um duro golpe contra o grupo, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.

No caso da Al-Qaeda, além de igualmente manter facções relevantes na África, também ajudou a fortalecer o grupo a tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. De acordo com a ONU (organização das Nações Unidas), o território afegão pode virar um porto seguro para a organização jihadista e suas afiliadas, bem como “potencial ímã para combatentes terroristas de outras regiões viajarem ao país”.

“Não há sinais recentes de que o Taleban tenha tomado medidas para limitar as atividades de combatentes terroristas estrangeiros no país. Pelo contrário, os grupos terroristas gozam de maior liberdade lá do que em qualquer momento da história recente”, diz relatório da ONU publicado em fevereiro deste ano.

O documento destaca, ainda, que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alega que um filho do ex-terrorista Osama Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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