Pobreza extrema pode chegar a 14% dos latino-americanos em 2020

Cifra equivale a 83,4 milhões de pessoas; entidades temem crise alimentar grave na esteira do novo coronavírus

A pobreza extrema pode chegar a 83,4 milhões de latino-americanos em 2020, ou 14% da população da região. Associada à crise do novo coronavírus, o resultado pode se tornar uma crise alimentar grave.

O diagnóstico é da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Com dados divulgados nesta terça (16), as entidades alertam para os efeitos de anos de crescimento lento, seguidos pela crise.

De acordo com o relatório, a região pode assistir à maior queda de seu PIB em um século – a estimativa é de retração de 5,3% em 2020. A recessão puxaria para abaixo da linha da pobreza cerca de 16 milhões de pessoas.

Pobreza extrema pode chegar a 14% dos latino-americanos em 2020
Com menor renda, latino-americanos comem menos frutas, hortaliças e proteínas como carne e ovos (Foto: Pexels)

Com a crise, as famílias tendem a substituir alimentos frescos, como frutas e ovos, por ultraprocessados ou carboidratos simples.

“Isso agravará a desigualdade nutricional que já precedia a pandemia: domicílios de menor renda consomem mais grãos, pães e cereais e menos lácteos, carnes e ovos”, diz o documento.

Alta nos preços

Mesmo com o preço internacional dos alimentos estável desde 2016, há aumentos.

Na região, a comida encareceu em média 4,6% entre janeiro e maio deste ano, ante 1,2% dos preços em geral. Isso significa que, dentro do orçamento familiar, a parcela referente à alimentação vem crescendo.

As maiores altas internas de preço aconteceram na Argentina, com 14%, Uruguai, com 7%, Colômbia (5,6%) e México (4,7%). Os produtos que mais encareceram foram ovos, arroz e batatas.

As respostas dos governos são variadas: na Bolívia e em El Salvador, o governo optou por transferências em dinheiro. Já em Guatemala, Honduras e Chile, a escolha foi pela distribuição de cestas básicas.

Entre as recomendações das entidades estão um abono para a população mais vulnerável por seis meses, em dinheiro, voucher ou cesta básica.

O custo estimado dessa política seria de US$ 23,5 bilhões, ou 0,45% do PIB regional, caso atendesse toda a população que vive abaixo da linha da pobreza.

Para os pequenos produtores, a sugestão é aumentar o aporte de microcrédito. Outra recomendação é oferecer um kit básico de investimento, de US$ 250 cada, para auxiliar agricultores muito pobres.

Outras recomendações são incentivo a programas de alimentação nas escolas, apoio à agricultura familiar e aos pequenos pescadores e evitar políticas protecionistas que aumentem o preço dos alimentos.

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