Tropas norte-americanas capturam importante figura do Estado Islâmico na Síria

Hani Ahmed al-Kurdi é um dos líderes do grupo na Síria e um importante fabricante de dispositivos explosivos improvisados

Uma operação realizada por tropas dos EUA na última quinta-feira (16) levou à captura de Hani Ahmed al-Kurdi, um dos líderes do Estado Islâmico (EI) na Síria e também conhecido por ser um importante fabricante de bombas. As informações são da rede Voice of America (VOA).

“A missão para capturar al-Kurdi foi meticulosamente planejada para minimizar o risco de danos civis ou danos colaterais”, disse comunicado divulgado pela Operação Inherent Resolve, uma coalizão liderada pelos EUA para derrotar o EI. “A missão bem-sucedida evitou qualquer dano a civis ou infraestrutura civil e não resultou em danos a aeronaves ou ativos da coalizão”.

Fuzileiros navais de unidade antiterrorismo dos EUA (Foto: divulgação/Sgt. Esdras Ruano)

Al-Kurdi foi descrito como um facilitador do EI, “responsável por coordenar atividades terroristas em toda a região e facilitar ataques contra forças dos EUA e parceiras”. Embora não seja renomado como outros líderes do grupo mortos ou capturados recentemente, ele é tido como uma figura proeminente, cuja detenção representa um importante golpe contra os jihadistas.

“Para desmantelar completamente uma organização como o EI, é crucial identificar e prender indivíduos como al-Kurdi, dada sua experiência como fabricante de bombas”, disse Colin Clarke, diretor de pesquisa da empresa de inteligência global The Soufan Group.

A empresa JihadoScope, que monitora a atividade online de extremistas islâmicos, detectou conversas entre jihadistas apontando que um helicóptero usado pelos militares teria sido danificado. A informação, porém, foi refutada por Washington, alegando ainda que nenhum militar ficou ferido na ação.

Por sua vez, o Observatório Sírio de Direitos Humanos, organização que documenta abusos dos direitos humanos na Síria, afirmou que a área onde ocorreu a operação abriga importantes figuras do EI. Muitos terroristas teriam escapado quando souberam da aproximação de uma aeronave norte-americana. Dois combatentes que faziam a escolta de al-Kurdi teriam sido detidos.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em fevereiro de 2022, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.

Já no mês de maio deste ano, o governo da Turquia anunciou que prendeu Abu al-Hassan al-Hashimi al-Quraishi, que no início de março foi anunciado como sucessor de Abu Ibrahim. Ele teria sido detido durante uma operação das forças antiterrorismo e da inteligência turcas. Entretanto, desde então, nem os EUA nem seus aliados ocidentais confirmaram a informação.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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