Austrália anuncia a remoção parcial de câmeras de vigilância chinesas

Medida ocorre quando Camberra e Beijing buscam harmonizar as relações, desgastadas após a Austrália banir a Huawei da rede 5G

O ministro da Defesa australiano, Richard Marles, anunciou nesta quinta-feira (9) que o governo irá remover a tecnologia de vigilância chinesa usada nos escritórios do departamento. A determinação veio após relatos de que as câmeras instaladas lá colocam em risco a segurança nacional. As informações são da rede BBC.

A medida foi anunciada após uma auditoria, solicitada pelo senador da oposição James Paterson, ter revelado 900 câmeras de duas empresas chinesas parcialmente estatais, a Hikvision e a Dahua, instaladas em mais de 200 escritórios governamentais do país, inclusive nos departamentos de relações exteriores e do procurador-geral.

Diante da constatação, Paterson, que também atua como ministro paralelo da Segurança Cibernética e Combate à Interferência Estrangeira, propôs a Camberra a elaboração urgente de um plano para a remoção desse tipo de equipamento em todos os setores do governo.

Câmera da Hikvision: Austrália teme expor o governo á vigilância chinesa (Foto: WikiCommons)

O ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro Richard Marles disse nesta quinta que o governo identificaria e faria a remoção do equipamento de videomonitoramento de qualquer área de defesa, deixando esses locais “completamente seguros”.

O Reino Unido e os Estados Unidos fizeram movimentos semelhantes em 2022, justificando temores de que os dados do dispositivo possam ser acessados ​​pelo governo chinês.

Washington sancionou a Hikvision por suspeitar que os equipamentos da empresa sejam utilizados com fins de espionagem, além de acusar a empresa de fornecer aparelhos que facilitam a detenção de uigures na região de Xinjiang. Já Londres determinou a todos os departamentos governamentais que parem de usar câmeras fabricadas na China em “locais sensíveis” do país. 

A cautela ocidental justifica-se pela Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas locais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente submete as empresas de tecnologia ao Partido Comunista Chinês (PCC).

A Hikvision diz que tais preocupações são “infundadas”. A Dahua não retornou a um pedido de comentário solicitado pela reportagem.

Relações intactas, diz premiê

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, disse não acreditar que a remoção das câmeras teria impacto nas relações diplomáticas com a China. “Agimos de acordo com o interesse nacional da Austrália. Fazemos isso de forma transparente e é isso que continuaremos a fazer”, disse ele em coletiva de imprensa.

Ao assumir o cargo de ministra das Relações Exteriores da Austrália em maio do ano passado, Penny Wong disse que “é a intenção da Austrália de ser um parceiro regional” da China, retomando as boas relações diplomáticas de até cinco anos atrás. O discurso dela, em sintonia com o Partido Trabalhista, é de “uma família do Pacífico mais forte”.

Por que isso importa?

A relação cordial entre Austrália e China começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando a Austrália cobrou uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira da China.

A resposta chinesa veio em forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada, além de importações limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas. Os Estados Unidos definiram o movimento como “coação econômica”. À época, as vendas de vinho do país ao Reino Unido cresceram quase 30% depois que a China aumentou taxas de commodities australianas. O país também chegou a “desencorajar” as fábricas de roupas do país de usarem o algodão australiano.

Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália em novembro de 2020 já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.

A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo do Cinturão da Rota da Seda no estado de Victoria, onde fica Melbourne.

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