Protestos marcam cerimônia da chama olímpica rumo aos Jogos Beijing 2022

Ativistas pelos direitos humanos contestam os Jogos de Inverno devido às ações do governo da China contra a minoria uigur e no Tibete

A cerimônia de acendimento da chama olímpica, realizada na segunda-feira (18) em Atenas, na Grécia, foi marcada por protestos de ativistas pelos direitos humanos. Essa é uma tendência que tem marcado o período pré-Olímpico e tende a se manter mesmo durante os Jogos Olímpico de Inverno Beijing 2022, que começam no dia 4 de fevereiro, na China. As informações são da Radio Free Europe.

Ativistas pelos direitos humanos reivindicam o adiamento dos Jogos de Inverno, ou até mesmo o cancelamento do evento do próximo ano, em virtude dos abusos cometidos pelo governo chinês.

Na Grécia, três manifestantes conseguiram invadir o templo de Hera, em Olimpia, exibindo uma faixa com a frase “No Genocide Games” (Não aos Jogos do Genocídio, em tradução livre) e uma bandeira do Tibete. A primeira faz referência ao tratamento dispensado por Beijing à minoria uigur na província de Xinjiang, que muitos governos classificam como genocídio. A outra remete à região ocupada pela China desde 1950.

Parque Olímpico dos Jogos de Inverno Beijing 2022 (Foto: Tracy Hunter/Unsplash)

Os autores do protesto em Atenas são membros da Free Tibet, organização sediada em Londres que luta contra a ocupação da região pela China. Eles foram identificados como Chemi Lhamo, Jason Leith e Fern MacDougal, segundo a rede norte-americana CNN. Um vídeo publicado pelo grupo mostra o momento em que um ativista grita “Como Beijing pode receber os Jogos Olímpicos, já que está cometendo um genocídio contra os uigures?”.

O britânico Tomas Bach, presidente do Comitê Olímpio Internacional (COI), descarta qualquer possibilidade de adiamento ou cancelamento dos Jogos e destaca o princípio adotado pelo órgão de que é “politicamente neutro”. Na visão dele, questões como a dos uigures e do Tibete cabem somente aos governos, não ao esporte.

“Os Jogos Olímpicos não podem enfrentar todos os desafios do nosso mundo. Mas eles são um exemplo para um mundo onde todos respeitam as mesmas regras e uns aos outros”, disse Bach na segunda-feira.

A cerimônia de acendimento da chama tradicionalmente ocorre na Grécia, berço dos Jogos Olímpicos. De lá, o fogo foi conduzido a Beijing, onde desde a quarta-feira (20) é exibido ao público na Beijing Olympic Tower, uma torre turística erguida três anos depois dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008, também realizados na cidade.

Por que isso importa?

A comunidade uigur é uma minoria muçulmana de raízes turcas que habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas. Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses.

Denúncias apontam uso de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang. Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minorias étnicas já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. Beijing admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação contraterrorismo.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

Já o Tibete foi ocupado em 1950, quando tropas do ELP (Exército de Libertação Popular) invadiram a região em um episódio que se convencionou chamar de “libertação pacífica” pelos chineses. Na ocasião, a artilharia esmagou a resistência tibetana, executou os guardas do líder espiritual Dalai Lama e destruiu mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso fugiu para a Índia.

Atualmente, Beijing classifica Gyatso como um “separatista perigoso”, e no lugar dele, foi reconhecido o atual Panchen Lama, instituído pelo partido como a mais alta figura religiosa do Tibete. Os líderes ateus do Partido Comunista Chinês (PCC) também não medem esforços para cultivar a lealdade entre os tibetanos, muitos dos quais são budistas devotos e tradicionalmente veem o Dalai Lama como seu líder espiritual.

Nas décadas de 1950 e 1960, os propagandistas do PCC costumavam exibir extensivamente os retratos de Mao Tsé-Tung em comícios e celebrações, estimulando o culto à personalidade de seu grande líder. A maioria dos líderes que sucederam Mao proibiu a prática. Já sob o atual governo de Xi Jinping, seus retratos individuais, bem como aqueles em que o presidente aparece ao lado dos líderes anteriores, foram espalhados no Tibete.

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