Com Putin, Rússia corre risco de virar ‘colônia econômica’ da China, diz diretor da CIA

A invasão russa da Ucrânia foi "um grande fracasso estratégico", um "grande gol contra" de Putin, disse William Burns

“Um grande fracasso estratégico”. Assim resumiu a invasão à Ucrânia orquestrada por Vladimir Putin o diretor da CIA (agência de inteligência dos EUA), William Burns, na terça-feira (11). Segundo ele, como consequência, Moscou pode, em um futuro próximo, se tornar fortemente dependente de Beijing para manter sua economia girando. As informações são da revista Newsweek.

Durante evento em uma universidade de Houston, Burns listou os problemas enfrentados pelo Kremlin, sob o ponto de vista econômico, desde o início da guerra. Entre eles a perda de mão de obra e material, a humilhação das forças armadas russas, a exposição de suas fraquezas, os danos de longo prazo resultantes das sanções impostas por EUA e aliados e o êxodo de mais de mil empresas ocidentais do país.

“Se você acha que no início da guerra a intenção de Putin era tentar fraturar e enfraquecer a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a verdade é que a Otan está mais coerente do que nunca. Acrescentou apenas um novo membro, a Finlândia, e é provável que adicione um segundo, a Suécia”, disse ele.

William Burns, diretor da CIA (Foto: World Economic Forum/Flickr)

Burns também observou que a Rússia está se tornando cada vez mais dependente da China. Isso, para ele, coloca Moscou, mais isolada que nunca do resto do mundo, sob o risco de se tornar uma “colônia econômica” da nação liderada por Xi Jinping com o passar dos anos, se tornando dependente da exportação de recursos energéticos e matérias-primas vindas do país com o qual estabeleceu uma aliança “sem limites“.

“Tudo isso soma, na minha opinião, um enorme gol contra para a Rússia de Putin neste momento”, disse o chefe da CIA.

Burns, diplomata de carreira que serviu cinco presidentes dos EUA (entre democratas e republicanos), foi enviado à Rússia no fim de 2021 pelo chefe da Casa Branca, Joe Biden. A missão era árdua: convencer Putin a não ir à guerra. No caminho de volta, o chefe da espionagem norte-americana estava convencido de que o conflito era um caminho sem volta. Atualmente, “é improvável que Putin aprenda com seus erros” cometidos de fevereiro do ano passado para cá, disse ele.

“Sua aposta é que ele pode esmagar os ucranianos e desgastar o Ocidente. Ele pensa, e quer que pensemos, que pode fazer o tempo trabalhar para ele”, disse Burns em seu discurso. “Ele continua convencido de que a Ucrânia é mais importante para ele do que para nós. Acho que Putin está tão errado nessa aposta quanto estava em suas suposições antes de sua invasão”.

A visita do presidente chinês Xi Jinping à Rússia em março serviu para fortalecer ainda mais a relação entre os dois países. Desde então, segundo eles, a aliança iniciou uma “nova era”, com cooperação militar e econômica mais ampla. Nesse contexto, há um inimigo em comum, os EUA, e a perspectiva de estabelecer uma nova ordem mundial.

Até agora, Beijing se absteve de enviar armas para os aliados, propôs um plano de quase paz para acabar com a guerra na Ucrânia e se distanciou das ameaças nucleares do chefe do Kremlin.

A China, disse Burns, continua sendo a “maior prioridade de longo prazo” da CIA. Ele já havia dito anteriormente que “a China de Xi Jinping não se contenta em apenas ter um assento à mesa, ela quer comandar a mesa”.

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