Reino Unido investiga agressões de estudantes chineses a manifestantes pró-Hong Kong

Incidente teria ocorrido durante evento para relembrar os protestos pró-democracia de 2019 no território semiautônomo

Manifestantes pró-Hong Kong alegam que foram agredidos por estudantes chineses em Southampton, na costa sul do Reino Unido, na segunda-feira (12), durante um evento público para relembrar os protestos pró-democracia ocorridos em 2019 no território semiautônomo. As informações são do jornal The Guardian.

As autoridades britânicas foram acionadas para apurar o episódio, classificado como “ataque relacionado ao ódio” pela polícia local.

De acordo com a associação de expatriados Hongkongers in Britain (Honcongueses na Grã-Bretanha, em tradução literal), que denunciou as agressões, houve “violação flagrante dos princípios fundamentais de liberdade de expressão, reunião pacífica e direito de protesto”.

Protesto pró-democracia em Hong Kong, outubro de 2019 (Foto: Studio Incendo/Wikimedia Commons)

Entre os agressores estariam cidadãos chineses que estudam na Universidade de Southampton, e um deles teria gritado em mandarim: “Hong Kong pertence à China”. Outro jovem carregava na mão uma bandeira da China.

Supostas imagens da agressão foram publicadas nas redes sociais, e a rede Radio Free Asia (RFA) reproduziu um vídeo no Twitter.

“O ataque em Southampton não é apenas um ataque aos indivíduos envolvidos, mas também uma afronta aos princípios da democracia e dos direitos humanos”, disse o grupo Hongkongers in Britain. “O direito de protestar pacificamente e defender suas crenças é um direito humano fundamental que deve ser protegido e respeitado por todos.”

Simon Cheng, ex-funcionário do consulado britânico e fundador da entidade, afirmou que o ataque foi realizado por “estudantes chineses do Partido Comunista Chinês (PCC)” e classificou o episódio como “uma demonstração alarmante de violência e intolerância”.

A polícia do condado de Hampshire disse que tomou conhecimento do ocorrido. “No momento, estamos conduzindo uma investigação e realizando investigações para determinar as circunstâncias exatas do incidente”, disseram as autoridades em comunicado.

Por sua vez, a Universidade de Southampton disse, através de um porta-voz, que também está ciente das imagens que circulam nas redes sociais e que está investigando. E acrescentou: “A universidade condena qualquer tipo de violência e respeita o direito de todos à liberdade de expressão.”

Por que isso importa?

Após ser transferido do domínio britânico para o chinês, em 1997, Hong Kong passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Entretanto, apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.

A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.

No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.

O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território

O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.

Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada”.

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