Uma delegação de membros do Parlamento Europeu desembarcou na quarta-feira (30) em Taiwan, num momento histórico para a ilha que luta para ter sua soberania reconhecida, contrariando as reivindicações da China de que é parte de seu território. Oficialmente, a visita tem como objetivo debater a luta contra a desinformação e a interferência estrangeira em questões de democracia, mídia, cultura e educação, informa a rede catari Al Jazeera.
O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan celebrou a visita da “primeira delegação oficial enviada pelo Parlamento Europeu a Taiwan na história, o que é de grande significado”. Por sua vez, o francês Raphael Glucksmann, líder da comitiva, falou sobre o encontro no Twitter e deixou clara a relação com o recente endurecimento da retórica chinesa. “Viemos aqui com uma mensagem simples, Senhora Presidente @iingwen: Taiwan não está sozinho. A Europa está ao seu lado na defesa da liberdade, da democracia e da dignidade humana”.
Segundo Glucksmann, a visita tem como propósito “discutir experiências de Taiwan na luta contra a desinformação, tentativas de interferência na democracia, mídia, cultura e educação de Taiwan, bem como os esforços de Taiwan para reforçar sua resiliência cibernética”.
O líder da comitiva da União Europeia (UE) elogiou as ações da ilha contra a China nesse sentido. “A experiência de Taiwan em enfrentar ataques repetidos e sofisticados por meio da mobilização de toda a sua sociedade, e sem restringir sua democracia, é única”, disse ele.
A visita tem a previsão de durar três dias e tende a ser apenas uma das etapas do processo de aproximação. “Em seguida, precisamos de uma agenda muito concreta de reuniões de alto nível e passos concretos de alto nível juntos para construir uma parceria muito mais forte entre a UE e Taiwan”, afirmou o líder da comitiva.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como território chinês.
Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan, e agora habitualmente invadem o espaço aéreo da ilha, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra”.
O embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site norte-americano Business Insider.
O documento, lançado pelo governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do Pentágono.
Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.