Alemanha segue a União Europeia e relembra as vítimas do terrorismo no país

UE recordas as vítimas do terror em 11 de março, data do ataque que matou 193 pessoas em Madri. Alemães adotaram o mesmo dia

Nesta sexta-feira (11), pela primeira vez, a Alemanha registra o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Violência Terrorista. Trata-se de uma data para homenagear as pessoas mortas pelo extremismo no país, seguindo o que faz a União Europeia (UE) desde 2005. As informações são da rede Deutsche Welle (DW)

Para os alemães, três datas são marcantes em função de ataques extremistas. Primeiro, há os assassinatos cometidos pelo grupo neonazista NSU (Nacional Socialista Underground, da sigla em inglês) entre os anos de 2000 a 2007. Depois, em 2016, o ataque jihadista no mercado de Natal de Breitscheidplatz, em Berlim. E, mais recentemente, os crimes racistas na cidade de Hanau, em fevereiro de 2020.

“Esses ataques mudaram drasticamente a vida de muitas pessoas. Muitas, com muita força, ainda estão lutando para voltar às suas vidas normais. Não devemos abandoná-las”, disse a ministra do Interior alemã Nancy Faeser.

Cerimônia relembra um ano do ataque em Hanau (Foto: Wikimedia Commons/Leonhard Lenz)

Ao esciolher a data, a Alemanha seguiu UE, que escolheu 11 de março devido aos ataques terroristas a bomba que mataram 193 em Madri, na Espanha, em 2004. “Prestar apoio às vítimas do crime, incluindo as vítimas de ataques terroristas, é uma parte importante do trabalho da Comissão para abordar todas as dimensões da ameaça terrorista”, disse em comunicado a Comissão Europeia.

“Para prevenir as infrações terroristas em primeiro lugar, a UE está ativa na luta contra a propaganda terrorista, offline e online, negando aos terroristas os meios e o espaço para planejar, financiar e realizar ataques e combater a radicalização”, afirmou o texto divulgado pela Comissão.

19 de dezembro de 2016

Andreas Schwartz, hoje com 52 anos, é um dos sobreviventes do ataque na praça Breitscheidplatz. Ele aceita que a Alemanha adote o 11 de março, embora aponte outra data: 19 de dezembro. Foi naquele dia, em 2016, que Anis Amri matou 12 pessoas ao dirigir um caminhão dentro do mercado de Natal. Uma 13ª vítima morreu mais tarde devido aos efeitos a longo prazo do ataque.

“Não estou bem”, disse Schwartz, uma das mais de cem pessoas que ficaram feridas no ataque. “Aquela coisa toda me quebrou”, diz ele, que contesta os inúmeros obstáculos impostos pelo Estado para que as vítimas conseguissem provar os danos causados pelo atentado..

“A forma como fomos tratados foi completamente errada”, afirma, citando os inúmeros especialistas que precisou consultar ma tentativa de obter a pensão de 60% que recebe do governo atualmente. “É uma catástrofe”, avalia, citando que teve autorização para apenas cinco horas de terapia, quando seu médico recomendou 30 horas. “Como uma pessoa que foi traumatizada pode recuperar o equilíbrio normal?”, questiona Schwartz.

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações para se manterem vivas inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito, sobretudo na África, onde são representadas por grupos afiliados regionais.

Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que a organização dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas na Síria.

Em janeiro deste ano, o exército norte-americano impôs nova derrota ao EI com o anúncio da morte de Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Ele morreu durante uma operação antiterrorismo na Síria, em mais um duro golpe contra o grupo, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.

No caso da Al-Qaeda, além de igualmente manter facções relevantes na África, também ajudou a fortalecer o grupo a tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. De acordo com a ONU (organização das Nações Unidas), o território afegão pode virar um porto seguro para a organização jihadista e suas afiliadas, bem como “potencial ímã para combatentes terroristas de outras regiões viajarem ao país”.

“Não há sinais recentes de que o Taleban tenha tomado medidas para limitar as atividades de combatentes terroristas estrangeiros no país. Pelo contrário, os grupos terroristas gozam de maior liberdade lá do que em qualquer momento da história recente”, diz relatório da ONU publicado em fevereiro deste ano.

O documento destaca, ainda, que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alega que um filho do ex-terrorista Osama Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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