Belarus afirma que ingressará na guerra contra a Ucrânia “somente se for atacada”

"Estou pronto para lutar junto dos russos em apenas um caso: se um soldado ucraniano vier ao nosso território matar meu povo", disse Lukashenko

autoritário líder de Belarus, Alexander Lukashenko, declarou nesta quinta-feira (16) que seu país, aliado de primeira ordem do Kremlin, ingressará na guerra contra a Ucrânia “somente se for atacado” primeiro pelas forças de Kiev. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

“Estou pronto para lutar junto com os russos em apenas um caso: se um soldado [da Ucrânia] vier ao nosso território com uma arma para matar meu povo”, disse o presidente durante uma rara coletiva de imprensa que reuniu jornalistas estrangeiros na capital, Minsk.

Lukashenko acrescentou que a mesma regra vale para os outros vizinhos. “Se eles cometerem uma agressão contra Belarus, nossa resposta será a mais cruel. A mais cruel!”, enfatizou.

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

O homem conhecido como “o último ditador da Europa” vem afirmando repetidamente que não irá reforçar as tropas de Vladimir Putin no front em território ucraniano, embora seja notório que Belarus dependa financeira e politicamente de Moscou. Desde o início do conflito, ele é acusado de permitir que o chefe do Kremlin use o país como trampolim para a invasão russa. A Rússia lançou vários ataques aéreos do território belarusso.

Mas, apesar das promessas de Lukashenko de que “não pretende enviar seu povo” para a guerra, há sim o temor de que suas tropas possam ingressar no front. O exército belarusso tem atualmente 65 mil soldados, sendo 45 mil das forças regulares e 20 mil funcionários de apoio e cadetes. Porém, nem todos os soldados estão na ativa. Muitos ficam fora de serviço em tempos de paz, mas a mídia local afirma que eles já estão de prontidão.

Inúmeras atividades militares e exercícios conjuntos entre Moscou e Minsk no início deste ano reacenderam as preocupações de que Belarus poderia estar se preparando para assumir um papel mais ativo no conflito.

No final de janeiro, Putin deu aval para que sejam estabelecidos centros de treinamento militar conjuntos para as forças armadas de ambas as nações, medida que aumentou ainda mais as especulações de que o exército belarusso seria inserido na guerra da Ucrânia.

Lukashenko tem agenda com Putin na sexta-feira (17). Em pauta, uma força regional conjunta anunciada em outubro para agir contra um suposto “agravamento” na fronteira ocidental belarussa. 

A junção de forças, se espalhadas ao longo das fronteiras ocidentais de Belarus, ficaria próxima a membros da União Europeia (UE) e aliados da Ucrânia, no caso Polônia, Lituânia e Letônia. No entanto, o contingente russo seria pequeno.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que a Rússia, governada pelo aliado Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsch Welle, em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

Tags: