Começa o julgamento do ex-presidente de Kosovo por crimes de guerra

Anistia Internacional vê a presença de Hashim Thaci no banco dos réus como “um passo importante no longo caminho para a justiça”

Sob dez acusações de crimes contra a humanidade e de guerra, sendo apontado como responsável pelo assassinato de cerca de cem civis quando era líder de tropas do Kosovo que pediam independência à Sérvia, entre 1998 e 1999, Hashim Thaçi, ex-presidente kosovar, começou a ser julgado na segunda-feira (3) em um tribunal especial de Haia, na Holanda. As informações são da ONG Anistia Internacional (AI).

Além de Thaçi, também acusado de chefiar um grupo de perseguição a oponentes que praticou sequestros e tortura, estão no banco dos réus outros três comandantes do Exército de Libertação do Kosovo (ELK).

O diretor da AI para a Europa, Nils Muiznieks, analisa o início do julgamento como “um passo importante no longo caminho para a justiça, verdade e reparação para centenas de vítimas da Guerra do Kosovo”.

“O fato de ter levado mais de dez anos para que qualquer um dos suspeitos de responsabilidade criminal fosse levado ao tribunal permitiu que persistisse uma cultura de impunidade para crimes de guerra cometidos durante a Guerra do Kosovo”, disse Muiznieks, que acrescentou: “Este julgamento envia uma mensagem clara de que os altos funcionários não estão acima da lei”.

Hashim Thaci, em cerimônia militar nos EUA em setembro de 2017 (Foto: U.S. Army/Elizabeth Fraser)

Estima-se que mais de 13 mil pessoas morreram no conflito, e 1,6 mil seguem desaparecidos. O Kosovo declarou sua independência em 2008, dez anos após a disputa, e possui o reconhecimento dos EUA e da União Europeia (UE). Sérvia e Rússia não admitem a separação.

Após a confirmação da acusação contra ele em 2020, Thaçi renunciou ao cargo imediatamente. Conhecido como herói de guerra e um dos pilares da política do Kosovo, ele foi eleito presidente em 2016, após oito anos como primeiro-ministro.

Thaci foi alvo em junho de 2020 de uma denúncia feita pela promotoria especial que trata de casos de crimes cometidos por guerrilheiros do Exército de Libertação do Kosovo. O órgão foi criado em Haia, em 2015, para lidar com o espólio da revolta de 1998, que levou à independência do país.

Uma força-tarefa da UE apontou evidências convincentes de crimes de guerra sistêmicos cometidos pela liderança do ELK, incluindo uma “campanha de perseguição” contra sérvios, ciganos e a população albanesa kosovar durante e imediatamente após o conflito armado ocorrido no fim dos anos 1990.

As primeiras alegações de crimes de guerra contra o Exército de Libertação surgiram em um relatório de 2011 da agência de direitos do Conselho da Europa. Guerrilheiros foram acusados de matar civis sérvios e opositores políticos albaneses.

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