Justiça de Belarus pede 19 anos de prisão para líder democrática exilada

Acusações contra a oposicionista e seus aliados incluem alta traição, criação de um grupo extremista e conspiração para tomar o poder

A equipe de promotores de Belarus que cuida do caso de Sviatlana Tsikhanouskaya pediu que uma pena de 19 anos de prisão seja imposta à líder democrática exilada. Ela vem sendo julgado à revelia por alta traição, organização de desordem em massa, criação de um grupo extremista, incitação ao ódio, conspiração para tomar o poder e por pedir sanções internacionais contra o país. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Tsikhanouskaya, que fugiu de Belarus e hoje vive no exterior, lidera a oposição ao presidente Alexander Lukashenko, que em 2020 a derrotou em uma eleição suspeita de fraude para beneficiar o ditador. Outras quatro pessoas associadas a ela, todas igualmente exiladas, também estão sendo julgadas à revelia.

Sviatlana Tsikhanouskaya: promotoria pede longa sentença de prisão (Foto: WikiCommons)

Um dos réus é o diplomata Pavel Latushko, que também foi alvo de um pedido de 19 anos de prisão. Contra as outras três pessoas que estão sendo julgadas, o pedido da promotoria é por uma pena de 12 anos de reclusão.

Na segunda-feira (27), Latushko voltou a pedir punições severas contra seu país natal. “Lukashenko diz que está pronto para continuar produzindo ativamente armas para a Rússia, armas para a guerra contra a Ucrânia. Precisamos de poderosas sanções econômicas contra o regime do ditador para privá-lo de fundos”, disse ele no Twitter.

Ao comentar as penas pedidas pela acusação, Latushko usou as palavras “promotor” e “tribunal” entre aspas, sugerindo que a Justiça local vem sendo usado de forma política pelo regime. E acrescentou: “Isso me motiva a continuar lutando”.

Tsikhanouskaya também usou a rede social para se manifestar e reforçou a denúncia do colega de que a corte age sob motivação política. “Não posso dizer que estou surpresa ao saber que o promotor pediu 19 anos no julgamento falso do regime de Belarus contra mim. Não tem nada a ver com justiça, é apenas uma vingança pessoal contra mim e outros que se opõem ao regime. Isso só nos fará lutar ainda mais”, disse ela.

Em janeiro, quando o julgamento teve início, ela já havia previsto que a promotoria pediria uma pena de “muitos, muitos anos de prisão”. Na ocasião, a líder democrática chamou Lukashenko de “ditador patético” e disse não se importar com o veredito. “Belarus precisa de justiça real, não de um show de marionetes”, declarou à época.

Outro alvo da Justiça belarussa é Sergei Tsikhanouski, marido de Tsikhanouskaya e atualmente preso. Ele foi proibido de concorrer à presidência em 2020, o que levou a mulher a assumir o posto. Segundo a líder democrática, uma nova sentença foi anunciada recentemente contra ele, o que aproxima a condenação dos 20 anos de encarceramento.

“O tribunal ilegal condenou meu marido Sergei a mais um ano e meio de prisão. Ele não admitiu sua culpa – porque não deveria estar na prisão. Ele deveria ser livre como todos os presos políticos. O regime pode continuar inventando novos métodos de repressão, mas não vai nos parar”, afirmou Tsikhanouskaya.

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. A organização de direitos humanos Viasna diz que há atualmente mais de 1,4 mil prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.

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