Polícia holandesa prende suposto chefe de segurança do Estado Islâmico

Suspeito teria desempenhado papel fundamental em duas organizações terroristas durante a Guerra Civil na Síria

A polícia holandesa prendeu nesta terça-feira (17) um homem sírio que supostamente desempenhou um papel fundamental como chefe de segurança tanto no Estado Islâmico (EI) quanto no grupo extremista Jabhat al-Nusra, afiliado à Al-Qaeda na Síria. As informações são da agência Associated Press.

A prisão ocorreu em Arkel, uma cidade na província de Holanda do Sul, no sul do país. O suspeito, de 37 anos, estava morando lá após ter recebido asilo, disseram os promotores.

“Suspeita-se que, de sua posição no EI, também tenha contribuído para os crimes de guerra que a organização cometeu na Síria”, detalhou o Ministério Público holandês em um comunicado, acrescentando que, entre 2015 e 2018, o homem ocupou um cargo de chefia no serviço de segurança da organização jihadista. Dois anos antes, ele cumpriu a mesma função para o Jabhat al-Nusra, que mudou de nome e hoje é conhecido como Hayat Tahrir Al-Sham (HTS).

Após pedir asilo, suspeito passou a morar na pequena cidade de Arkel, no sul da Holanda (Foto: WikiCommons)

O indivíduo pediu asilo em 2019 e mudou-se para Arkel um ano depois. O acusado deverá se apresentar a um juiz de instrução em Haia em 20 de fevereiro.

Não é a primeira vez que um suposto envolvido no conflito sírio é preso por autoridades holandesas. Em 2022, a Justiça local condenou dois irmãos sírios por ocupar cargos importantes no Jabhat al-Nusra entre 2011 e 2014.

Entre 1º de março de 2011 e 31 de março de 2021, 306.887 civis foram mortos na guerra em curso na Síria. Trata-se da estimativa mais alta até agora de mortes relacionadas a conflitos no país, de acordo com um relatório publicado em junho do ano passado pelo ACNUDH (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) 

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

Na África Ocidental, em particular, a violência das organizações jihadistas tem aumentado. Nos últimos três anos, foram registrados mais de 5,3 mil ataques terroristas, com a morte de cerca de 16 mil pessoas. A informação foi divulgada no início de maio deste ano pelo ministro da Defesa de Gana, Dominic Nitiwul, durante reunião de representantes dos países da região.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em fevereiro deste ano, o EI sofreu um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. Já em novembro, o próprio grupo revelou que Abu al-Hassan al-Hashemi al-Qurashi, sucessor de Abu Ibrahim, também foi morto.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado no final de maio.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O ex-líder da organização Ayman al-Zawahri, inclusive, foi morto em território afegão em um ataque das forças armadas dos EUA no dia 1º de agosto .

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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