Presidente define manifestações populares no Cazaquistão como ‘tentativa de golpe’

Mais de 8 mil pessoas foram presas desde o início dos atos que questionam a alta dos preços dos combustívelis

O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, declarou nesta segunda-feira (10) que seu país vem resistindo ao que ele define como “uma tentativa de golpe coordenada” por “um único centro”. Os protestos contra a alta nos combustíveis levaram a uma onda de violência na ex-república soviética, a maior desde a conquista da independência, informou a rede Voice of America (VOA).

“Ficou claro que o principal objetivo dos protestos recentes era minar a ordem constitucional e tomar o poder”,disse Tokayev durante uma cúpula virtual da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, da sigla em inglês), uma aliança militar intergovernamental da Eurásia.

O líder cazaque solicitou ajuda ao presidente russo Vladimir Putin para reprimir as manifestações. O Kremlin determinou o envio inicial de 3 mil paraquedistas. Outros vários outros membros do CSTO responderam enviando tropas, como Armênia, Belarus, Quirguistão e Tadjiquistão.

Putin, que também participou da reunião online, jogou mais lenha na fogueira ao associar as manifestações no país à influência estrangeira.

“É claro que entendemos que os eventos no Cazaquistão não são a primeira e nem a última tentativa de interferir nos assuntos internos de nossos Estados de fora”, disse.

Em um decreto extremo para controlar os ânimos nas ruas, o presidente Tokayev emitiu às forças de segurança uma ordem de atirar para matar, dando carta verde para que a polícia abrisse fogo contra os manifestantes sem aviso prévio.

Manifestantes em Almaty (Foto: Twitter/Reprodução)

Paralelo a isso, também nesta segunda-feira foi declarado luto oficial pelas vítimas das manifestações. Até agora, de acordo com a imprensa estatal, 164 pessoas perderam a vida, entre elas 26 “criminosos armados” e 16 agentes de segurança. Cerca de 8 mil pessoas foram presas.

Os protestos foram motivados pelo aumento do preço do combustível, mas cresceram devido à insatisfação com o regime autoritário do país. 

Dos EUA, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou no domingo (9) à rede ABC que o Cazaquistão “tem capacidade para manter a lei e a ordem, para defender as instituições do Estado, mas de forma a respeitar os direitos dos manifestantes pacíficos e também a responder às preocupações que manifestaram – preocupações económicas, algumas preocupações políticas”.

O presidente Tokayev, em um movimento para tentar conter a crise, destituiu seu governo na quarta-feira passada e declarou estado de emergência em duas regiões, além de decretar toque de recolher e diversas outras restrições. Ele culpou “provocadores estrangeiros” pelos protestos.

Por que isso importa?

Os atos no Cazaquistão questionam a alta dos preços do gás liquefeito de petróleo (GLP). O combustível é amplamente utilizado no oeste do país, onde muitos cazaques converteram seus carros visando à economia e viram os valores mais do que dobrarem nos últimos tempos.

Diante da pressão popular, Tokayev ordenou aos governadores provinciais para que restabelecessem os controles de preços do GLP e os ampliassem para gasolina, diesel e outros bens de consumo “socialmente importantes”. Paralelamente, o líder nacional convocou a ajuda da Rússia, que enviou tropas para ajudar na contenção dos protestos que se tornaram violentos.

Para alguns especialistas, o maior perigo Moscou ao entrar no conflito é ser sugada para as disputas internas do Cazaquistão. Isso poderia levar a uma erupção nacionalista, quebrando o frágil equilíbrio étnico no país. “Há uma chance real de vermos o aumento de um sentimento anti-russo no Cazaquistão, nos moldes da Ucrânia ou da Geórgia”, disse Andrei Kortunov, chefe do RIAC (Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, da sigla em inglês), um think tank ligado ao Kremlin.

O prejuízo também pode ser doméstico, com uma queda de popularidade ainda maior do presidente Vladimir Putin, já atingido pela crise econômica e por uma insatisfação geral com reformas recentes. “Putin geralmente acredita em sua própria popularidade”, disse Tatiana Stanovaya, fundadora da R. Politik, uma empresa de consultoria política. “Mas os eventos no Cazaquistão podem fazê-lo duvidar do quão sustentável essa popularidade realmente é”.

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