O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê “uma crise como nenhuma outra”, segundo seu relatório econômico global divulgado nesta quarta (24). O aposto é adequado para a previsão sobre a América Latina, cujo produto deve encolher 9,4% em relação a 2019. É a maior queda entre as regiões emergentes, e a maior registrada até hoje.
A economia global deve perder, no biênio 2020-2021, cerca de US$ 12 bilhões. Destes, 10% vem dos países latino-americanos, informou a diretora-gerente do Fundo, Kristalina Georgieva, em declaração na Conferência de Líderes Latino-Americanos e Caribenhos, também nesta quarta.
Parte das perdas esperadas na América Latina é derivada da paralisação do setor de turismo, importante para a economia local. Também pesa a alta informalidade do mercado de trabalho nesses países.
O baque será mais forte nas economias emergentes, alertou Georgieva. Além do risco de reverter os ganhos econômicos anos 2000 – derivados de fatores como a estabilização da inflação e dos altos preços das commodities – o avanço dos emergentes ao nível das economias avançadas agora assume um passo ainda mais lento.
Na conferência, presidentes de países como Argentina, Uruguai, Costa Rica, Peru, Colômbia e Chile assinaram declaração conjunta na qual pediram auxílio às instituições financeiras “frente à gravidade de uma situação tão excepcional quanto a atual”.
A meta seria evitar o que classificaram como “um aumento considerável das taxas de pobreza e desigualdade em toda a região”. O encontro, presidido pela Espanha, não contou com a participação do Brasil.
Pandemia e retração
O relatório mais recente é uma atualização das estimativas de abril. Àquele ponto, a previsão era de uma grave crise na sequência da pandemia. Mas, em abril, o Fundo trabalhava com o pressuposto de que a fase mais aguda da crise ocorreria no segundo trimestre do ano.
Na América Latina, os contágios têm crescido de forma vertiginosa. São poucos os indícios de que a situação deve se estabilizar nas próximas semanas sobretudo com o aumento no número de casos no Brasil, que saltou de 498 mil em 1 de junho para 1,1 milhão no dia 25 do mesmo mês.
O Caribe, que depende do turismo, também sofrerá um baque dramático. A região tem países onde o setor responde por entre 50 e 90% do PIB (Produto Interno Bruto) local. Nos próximos meses, também há a temporada de furacões, que sozinha já causa destruição considerável à região.
Segundo Georgieva, 95% dos países do mundo terão retração no PIB neste ano. Uma das notáveis exceções é a China, com aumento de 1%, considerado insignificante para um país onde 6% é um crescimento baixo.