Futuro da humanidade depende de medidas climáticas urgentes, diz relatório da ONU

Secretário-geral das Nações Unidas descreveu o documento como um “guia prático para desarmar a bomba-relógio climática"

Um importante relatório da ONU (Organização das Nações Unidas), elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e divulgado na segunda-feira (20), descreve as muitas medidas que podem ser adotadas agora para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adaptar o planeta às mudanças climáticas causadas pelo homem.

O estudo “Climate Change 2023: Synthesis Report” (Mudança Climática 2023: Relatório de Síntese, em tradução literal), divulgado após uma semana de sessões do IPCC em Interlaken, traz à tona as perdas e danos sofridos agora e que devem continuar no futuro, que estão atingindo pessoas e ecossistemas mais vulneráveis de maneira especialmente dura.

As temperaturas já subiram 1,1º C acima dos níveis pré-industriais, consequência de mais de um século de queima de combustíveis fósseis, bem como uso de energia e terra de forma desigual e insustentável. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, que causaram impactos cada vez mais perigosos na natureza e nas pessoas em todas as regiões do mundo.

Espera-se que a insegurança alimentar e hídrica causada pelo clima aumente com aquecimento crescente: quando os riscos se combinam com outros eventos adversos, como pandemias ou conflitos, eles se tornam ainda mais difíceis de administrar.

Céu nublado devido à poluição em Shang Di, China, março de 2010 (Foto: Divulgação/Cory M. Grenier)
O tempo é curto, mas há um caminho claro a seguir

Se o aumento das temperaturas deve ser mantido em 1,5º C acima dos níveis pré-industriais, serão necessárias reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa em todos os setores nesta década, afirma o relatório. As emissões precisam cair agora e precisam ser cortadas quase pela metade até 2030, se essa meta tiver alguma chance de ser alcançada.

A solução proposta pelo IPCC é o “desenvolvimento resiliente ao clima”, que envolve a integração de medidas de adaptação às mudanças climáticas com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases de efeito estufa de forma a proporcionar benefícios mais amplos.

Os exemplos incluem o acesso à energia limpa, eletrificação com baixo teor de carbono, a promoção de transporte com zero e baixo teor de carbono e melhoria da qualidade do ar: os benefícios econômicos para a saúde das pessoas decorrentes apenas das melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos, ou possivelmente até maiores, do que os custos de reduzir ou evitar emissões.

“Os maiores ganhos em bem-estar podem vir da priorização da redução do risco climático para comunidades de baixa renda e marginalizadas, incluindo pessoas que vivem em assentamentos informais”, disse Christopher Trisos, um dos autores do relatório. “A ação climática acelerada só acontecerá se houver um aumento de muitas vezes no financiamento. Financiamento insuficiente e desalinhado está atrasando o progresso”.

Os governos são fundamentais

O poder dos governos para reduzir as barreiras à redução das emissões de gases de efeito estufa, por meio de financiamento público e sinais claros aos investidores, e intensificar medidas políticas testadas e comprovadas, é enfatizado no relatório.

Mudanças no setor de alimentos, eletricidade, transporte, indústria, edifícios e uso da terra são destacadas como formas importantes de reduzir as emissões, bem como mudanças para estilos de vida de baixo carbono, que melhorariam a saúde e o bem-estar.

“Mudanças transformadoras têm mais chances de sucesso onde há confiança, onde todos trabalham juntos para priorizar a redução de riscos e onde benefícios e ônus são compartilhados equitativamente”, disse o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “Este relatório ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos”.

Chefe da ONU anuncia plano para acelerar o progresso

Em uma mensagem de vídeo divulgada na segunda-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu o relatório como um “guia prático para desarmar a bomba-relógio climática”.

A ação climática é necessária em todas as frentes: “tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo”, declarou ele, em referência ao título do filme vencedor do Oscar deste ano.

O chefe da ONU propôs ao grupo G20 de economias altamente desenvolvidas um “Pacto de Solidariedade Climática”, no qual todos os grandes emissores fariam esforços extras para cortar emissões, e os países mais ricos mobilizariam recursos financeiros e técnicos para apoiar as economias emergentes em um esforço comum para garantir que as temperaturas globais não subam mais de 1,5º C acima dos níveis pré-industriais.

Guterres anunciou que está apresentando um plano para aumentar os esforços para alcançar o Pacto por meio de uma Agenda de Aceleração, que envolve líderes de países desenvolvidos comprometendo-se a atingir o zero líquido o mais próximo possível de 2040, e os países em desenvolvimento, o mais próximo possível de 2050.

A Agenda exige o fim do carvão, geração líquida zero de eletricidade até 2035 para todos os países desenvolvidos, e 2040 para o resto do mundo, e a interrupção de todo licenciamento ou financiamento de petróleo e gás, e qualquer expansão de reservas de petróleo e gás.

Essas medidas, continuou Guterres, devem acompanhar salvaguardas para as comunidades mais vulneráveis, aumentando o financiamento e as capacidades de adaptação e perdas e danos e promovendo reformas para garantir que os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento forneçam mais doações e empréstimos e mobilizem totalmente o financiamento privado.

Olhando para a próxima conferência do clima da ONU, que será realizada em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro, Guterres disse que espera que todos os líderes do G20 se comprometam com novas contribuições ambiciosas em toda a economia, determinadas nacionalmente, abrangendo todos os gases de efeito estufa, e indicando suas metas absolutas de redução de emissões para 2035 e 2040.

Jornada rumo ao zero líquido “ganha ritmo”

Achim Steiner, administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apontou sinais de que a jornada rumo ao zero líquido está ganhando ritmo enquanto o mundo olha para a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU de 2023, ou COP28, nos Emirados Árabes Unidos.

“Isso inclui a Lei de Redução da Inflação nos EUA, descrita como ‘a legislação mais significativa da história para enfrentar a crise climática’ e o mais recente Plano Industrial Green Deal da União Europeia (UE), uma estratégia para tornar o bloco o lar de tecnologia limpa e empregos verdes”, disse ele.

“Agora é a hora de uma era de coinvestimento em soluções ousadas. À medida que a estreita janela de oportunidade para interromper a mudança climática se fecha rapidamente, as escolhas que os governos, o setor privado e as comunidades agora fazem – ou não fazem – ficarão para a história”, declarou Steiner.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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