Cem detidos estão no corredor da morte no Irã por conta de protestos

Regime da república islâmica vem intensificando a repressão contra manifestantes envolvidos na onda de protestos no país

Pelo menos cem pessoas já foram condenadas à morte ou acusadas de cometer crimes capitais em meio à onda de protestos antigoverno que vem ocorrendo no Irã desde setembro, após a morte da jovem curda Mahsa Amini. A informação foi divulgada na terça-feira (27) por um grupo de direitos humanos e reproduzida pela rede BBC.

Entre os condenados à pena capital estão cinco mulheres, detalhou a ONG Direitos Humanos do Irã (IHR, na sigla em inglês), com sede em Oslo, na Noruega. e há a possibilidade de o número real de manifestantes sentenciados à morte ser muito maior, já que as famílias têm sido pressionadas pelas autoridades a se manter em silêncio.

Entre as mulheres que enfrentam acusações que podem levá-las ao enforcamento está Mojgan Kavousi, uma professora de língua curda e defensora dos direitos humanos, que a IHR disse ter sido acusada de “corrupção na Terra”.

Um relatório publicado pelo grupo identificou cem indivíduos cujas sentenças ou indiciamentos foram anunciados por autoridades ou relatados por suas famílias pela mídia. Somente em dezembro, dois homens foram executados no que os ativistas dizem ser “julgamentos falsos”.

Protesto contra a pena de morte no Irã em San Francisco, nos Estados Unidos (Foto: Steve Rhodes/Flickr)

Um deles é Majidreza Rahnavard, de 23 anos, enforcado em público neste mês na cidade de Mashhad, no nordeste do país. Ele foi condenado à morte sob acusação de ter esfaqueado dois membros das forças de segurança durante protestos desencadeados após o incidente que tirou a vida de Mahsa Amini. O outro é Mohsen Shekari, 23, enforcado após ter sido condenado pelo crime de “inimizade contra Deus”, segundo informou a mídia estatal iraniana. Ele teria liderado um grupo de manifestantes que bloqueou uma estrada de Teerã e feriu um integrante de uma milícia armada ligada ao governo.

Todos os réus foram “privados do direito de acessar seu próprio advogado, do devido processo legal e de julgamentos justos”, afirmou o relatório da IHR.

As autoridades iranianas definem os protestos como “distúrbios” apoiados por estrangeiros, em especial o Reino Unido, acusado de “papel destrutivo” em meio à atmosfera de desobediência civil. No domingo (25), a Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) disse que desmantelou uma “rede organizada” conectada à agência de inteligência britânica. Entre os detidos estão sete cidadãos com dupla nacionalidade.

Até agora, pelo menos 476 manifestantes foram mortos, incluindo 64 crianças e 34 mulheres, de acordo com a IHR.

A comunidade internacional tem feito críticas ao regime iraniano, especialmente EUA, França, Reino Unido e Alemanha. A ONG Anistia Internacional (AI) fez um apelo ao aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, para que suspenda as penas capitais e dê fim às punições infligidas aos manifestantes.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares, inclusive mortes.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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