Alexei Navalny é premiado nos Estados Unidos por sua ‘luta contra a tirania’

Oposicionista está preso desde o início do ano passado, e novas denúncias contra ele podem ampliar o tempo de detenção para até 30 anos

O oposicionista russo Alexei Navalny, preso na Rússia desde o início do ano passado por se posicionar contra o presidente Vladimir Putin, foi agraciado na última segunda-feira (24) com o Prêmio de Coragem Civil oferecido pela Fundação Train, de Nova York.

Segundo a entidade, “o prêmio é concedido pela Fundação Train àqueles que lutam contra a tirania como uma missão pessoal” e “homenageia os poucos extraordinários entre nós que buscam resolutamente a liberdade para muitos, apesar das consequências para eles mesmos”.

O anúncio da premiação para Navalny foi feito pelo bailarino e coreógrafo russo Mikhail Baryshnikov, que deixou a Rússia em 1974, quando o país ainda era parte da União Soviética. Ele aproveitou uma turnê no exterior para obter asilo no Canadá, tendo posteriormente se mudado para os EUA.

Em seu discurso, Baryshnikov afirmou que Navalny é “insanamente corajoso” por combater “outra Rússia autoritária e brutal”, segundo a agência Associated Press. Ele afirmou ainda que a missão do rival de Putin é  “defender uma visão mais democrática para a Rússia”.

Como o agraciado está preso, Leonid Volkov e Ivan Zhdanov, dois dos principais aliados dele, receberam o Prêmio de Coragem Civil. “Todo dia é um exercício de coragem civil”, disse Volkov na cerimônia.

Alexei Navalny, principal opositor de Vladimir Putin na Rússia (Foto: Wikimedia Commons)
Novas acusações

Na semana passada, o oposicionista anunciou que se tornou alvo de novas acusações da Justiça de seu país. Ele atualmente cumpre pena de 11 anos de prisão em uma colônia penal próxima a Moscou, e os novos crimes imputados a ele podem ampliar a detenção para até 30 anos.

Segundo ele, as acusações incluem os crimes de promover o terrorismo, apelar publicamente ao extremismo, financiar atividades extremistas e reabilitar o nazismo. Elas estariam relacionadas a vídeos publicados pela equipe de Navalny no YouTube.

De volta à ativa

No início do mês, a equipe do oposicionista havia anunciado que voltará a operar na Rússia, mesmo tenso sido classificada como “extremista” e sendo, consequentemente, banida. Muitos associados de Navalny fugiram do país nos últimos meses, mas dizem que optaram por retomar a atuação porque o regime de Putin está, nas palavras deles, “enfraquecido“.

Volkov e Zhdanov, que hoje vivem exilados, disseram em um vídeo no YouTube que pretendem atuar como um “grupo guerrilheiro clandestino” para driblar a perseguição estatal.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do rival, que também passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Em janeiro deste ano, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março, foi julgado por peculato e desacato. Condenado, teve o tempo de detenção ampliado em nove anos. Nos últimos meses, ele relatou que seguidas vezes foi enviado ao confinamento solitário na cadeira.

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