México transmite aulas por TV e rádio até 2021 após fechamento por pandemia

Cursos têm como público-alvo crianças sem internet em casa; docentes temem atrasos no aprendizado

No México, após decisão de fechar as escolas públicas pelo resto do ano como medida de contenção do novo coronavírus, a saída foi trazer as aulas para a televisão e o rádio. Cerca de 30 milhões de estudantes serão beneficiados com a medida.

A solução procura incluir a parcela de 44% das famílias mexicanas que não têm acesso à internet, de acordo com dados do governo. O que a quase totalidade da população tem em casa é uma televisão, presente em 93% dos domicílios.

Para alcançar as crianças que não possuem TV ou internet, a solução será transmitir a aula pelo rádio. Segundo a CNN, a maioria desses alunos vive em comunidades indígenas remotas.

Cores da bandeira mexicana decoram sala de aula. Foto tirada em 2018
México levará aulas para TV e rádio durante o período de pandemia; escola mexicana em imagem de 2018 (Foto: Traveler2505/Wikicommons)

Como no Brasil, a lei mexicana prevê que todas as crianças do país tenham acesso à educação pública.

“Planejamos ter 640 programas, em 18 estações de rádio, em 15 estados do país”, disse Rodolfo Lara Ponte, que dirige as aulas pelo rádio. Muitos são gravados em línguas indígenas. “Não há precedente para uma operação tão grande”, afirmou o educador.

Até 2021

A princípio, os programas de TV e rádio duram até dezembro. O prazo pode ser estendido, se houver nova escalada no número de casos.

Os servidores no dia a dia do programa afirmam que a meta ainda é reabrir o quanto antes, mas as transmissões são a solução mais segura.

“Foi uma decisão difícil não reabrir as escolas”, disse Maria Meléndez, diretora do Ministério da Educação. “Mas, com aulas de TV e rádio, isso tentamos não aumentar a lacuna no aprendizado de quem está fora da escola”, aponta.

“Tem que funcionar”, disse Mariana, mãe de uma adolescente de 12 anos. “Não dá para comparar com as aulas presenciais, mas vamos dar o nosso melhor. Precisamos nos adaptar”, conta. 

Para os professores

No ano passado, Omar Morales era mais um professor de escola pública. Agora, é parte ator, e responsável por um plano de aula sobre os elementos do som que será assistido por milhões.

“É um desafio”, diz. “Não são mais 40 crianças em uma classe onde eu sei seus nomes e brincadeiras favoritas. Aqui, estou preso em casa, mas sei que há milhões de crianças por aí que ainda precisam desse conhecimento.”

Morales faz parte do plano do governo para gravar as de aulas do pré-escolar ao ensino médio. Como ele, outros professores vão participar da iniciativa – de casa.

Lacunas estruturais

O abismo social entre ricos e pobres no México também terá de ser observado ao elaborar os cursos. Com internet em casa, alunos de maior renda têm estrutura para estudar e tirar dúvidas por conta própria ou até dedicar horas a mais à atividade.

“O único aprendizado deste ano será o que conseguirão com a TV”, disse Erandi Jacobo Martínez, professora de uma escola pública em Coyoacán, um bairro na região sul da Cidade do México, à CNN. “E se eles tiverem alguma dúvida, nossa capacidade de ajudar será muito limitada”, lamenta.

As avaliações também são discutíveis. O Ministério da Educação diz que está desvalorizando a quantificação do progresso do aluno no momento, não apenas porque é difícil de fazer, mas também por causa do estresse adicional que pode causar aos alunos. 

Por esse motivo, Maria Meléndez afirma que, para evitar mais desgastes os alunos, todos serão avaliados apenas no retorno às aulas presenciais.

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