Austrália atende pedido de Taiwan e instala adido militar na ilha semiautônoma

Camberra irá estacionar um oficial militar em sua embaixada de fato em Taipé para fazer a ligação com as agências de segurança taiwanesas

O governo da Austrália decidiu nomear um diretor de assuntos estratégicos para sua embaixada de fato em Taiwan, com o objetivo de fortalecer a relação entre Camberra e a ilha vista por Beijing como uma “província rebelde”. A estratégia foi acordada para evitar que “o pior aconteça” em meio a ameaças contínuas da China. As informações são do site The Defense Post.

A decisão foi tomada após o ministro das Relações Exteriores taiwanês, Joseph Wu, solicitar a instalação de adidos militares australianos em seu escritório em Taiwan, visando estabelecer uma conexão direta com as agências de segurança da ilha.

De acordo com Wu, a presença de uma representação diplomática das forças australianas poderia contribuir para uma colaboração efetiva entre as duas nações, evitando o surgimento de situações problemáticas em meio às crescentes turbulências com Beijing. Além disso, essa medida poderia facilitar o compartilhamento de informações de inteligência e a análise conjunta de situações regionais.

Ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu (Foto: WikiCommons)

O ministro taiwanês enfatizou que a pronta resposta da Austrália é uma evidência do compromisso do país com a paz e a estabilidade na região do Indo-Pacífico. Estados Unidos, Japão e Singapura são alguns dos outros países que mantêm adidos militares em Taiwan.

Conexões

A Austrália adota o princípio de “Uma só China“, na qual não reconhece Taiwan como um país independente, embora mantenha relações informais com as autoridades em Taipé. Camberra ainda revelou ter mantido contatos informais com a nação autogovernada, visando promover interesses econômicos, comerciais e culturais.

“Estou ciente de que o escritório australiano aqui iniciou conversas com nossas agências de segurança, e esse desenvolvimento é extremamente significativo”, afirmou Wu, acrescentando que o governo taiwanês também queria colocar um adido militar na embaixada de fato taiwanesa em Camberra.

“Acho de extrema importância que o governo australiano esteja dedicando mais atenção às questões de segurança regional, permitindo assim que ambos os países compartilhem suas observações e avaliações da situação.”

Desgaste

O desenvolvimento evidencia o estremecimento da relação entre China e Austrália, que começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando os australianos cobraram uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira dos chineses.

Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália, em novembro de 2021, já apontava a grave deterioração nas relações entre as nações. Nele, Beijing acusava o primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.

A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo do Cinturão da Rota da Seda no estado de Victoria, onde fica Melbourne.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto de 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro do ano passado “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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