Austrália refuta acusação da China e justifica ação de aeronave de reconhecimento

Beijing classificou a presença do avião como "provocação", enquanto Camberra defendeu o direito de vigiar as próprias águas

Austrália e China trocaram acusações nos últimos dias, após uma embarcação do exército chinês apontar um laser contra uma aeronave militar de reconhecimento australiana. Beijing classificou a presença do avião como “provocação”, enquanto Camberra defendeu o direito de vigiar as próprias águas e reforçou que o laser colocou em perigo os ocupantes da aeronave. As informações são da agência Reuters.

A aeronave australiana de patrulha marítima P-8A Poseidon sobrevoava o norte da Austrália na quinta-feira (17) passada, quando foi iluminada por um laser disparado de um navio de guerra da Marinha do Exército de Libertação do Povo (PLA, na sigla em inglês), da China. O Departamento de Defesa da Austrália disse que a atitude foi “perigosa, não profissional e imprudente” e colocou vidas “potencialmente em perigo”.

“Nossos aviões de vigilância têm todo o direito de estar em nossa zona econômica exclusiva (ZEE) e ficar de olho no que as pessoas estão fazendo”, disse o primeiro-ministro australiano Scott Morrison. “O fato de terem sido ameaçados é extremamente decepcionante“.

Navios militares do exército da China (Foto: picryl.com/)

Na segunda (21), o Ministério da Defesa da China avia acusado o avião de vigilância de lançar uma boia sonar perto dos navios chineses, tendo ainda voado a cerca de 4 quilômetros do comboio, o que Beijing chamou de “provocativo e perigoso“.

Camberra alegou que a boia foi usada somente após o laser ter sido mirado contras a aeronave, alegando ainda que o artefato não oferece qualquer risco. “Foram jogadas na água a uma distância significativa à frente do navio”, disse o governo australiano, destacando que o objeto serve para detectar a presença de navios e submarinos através da captação de dados sonoros.

“A Austrália espera que todas as embarcações estrangeiras que entram em suas zonas marítimas cumpram a lei internacional, particularmente a UNCLOS (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, da sigla em inglês)”, afirmou um comunicado do Departamento de Defesa da Austrália.

Disputa na Antártida

O incidente ocorre em meio a uma nova disputa entre os dois países, esta pelos direitos de exploração da Antártida. Na terça (22), Morrison anunciou que a Austrália gastaria 804 milhões de dólares australianos (R$ 2,9 bilhões) para comprar drones e helicópteros e construir novas estações móveis na Antártida, uma região que o país alega ser necessário vigiar.

segundo o premiê, a China não compartilha dos objetivos da Austrália na Antártida, onde 42% da área é reivindicada por Camberra, contrariando os interesses de Beijing de exploração. “Precisamos ficar de olho na Antártida porque há outros que têm objetivos diferentes dos nossos”, disse Morrison.

Por que isso importa?

A relação cordial entre Austrália e China começou a deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando a Austrália cobrou uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira da China.

A resposta chinesa veio em forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada, além de importações limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas. Os Estados Unidos definiram o movimento como “coação econômica”. À época, as vendas de vinho do país ao Reino Unido cresceram quase 30% depois que a China aumentou taxas de commodities australianas. O país também chegou a “desencorajar” as fábricas de roupas do país de usarem o algodão australiano.

Um documento de 14 páginas vazado de forma deliberada pela Embaixada da China na Austrália em novembro de 2020 já apontava a grave deterioração nas relações entre os dois países. Nele, Beijing acusava o primeiro-ministro Scott Morrison de “envenenar as relações bilaterais”.

A carta ainda culpava Camberra pelos relatórios “hostis e antagônicos” sobre a China na mídia australiana independente e pelos ataques ao acordo do Cinturão da Rota da Seda no estado de Victoria, onde fica Melbourne.

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