Em meio a uma visita a Xinjiang, a embaixadora do Canadá na China, Jennifer May, expressou preocupação com as violações documentadas dos direitos humanos contra a minoria étnica muçulmana dos uigures. As informações são da rede Radio Free Asia.
Durante passagem pela província no extremo oeste chinês, Jennifer teve agenda com altos funcionários, incluindo o secretário do Partido de Xinjiang, Ma Xingrui. A visita, que ocorreu de 19 a 22 de junho, gerou críticas da Embaixada da China no Canadá, que desqualificou as preocupações como baseadas em “rumores e relatórios fabricados com segundas intenções”.
Nos últimos anos, poucos diplomatas ocidentais visitaram Xinjiang, e a viagem de Jennifer marcou a primeira visita de um diplomata canadense à região em uma década. Em agosto do ano passado, um grupo de diplomatas de países como México, Paquistão e Irã também visitou a região como parte de uma viagem patrocinada pelo governo.

Jennifer visitou Xinjiang como parte dos esforços diplomáticos do Canadá na China, focando em preocupações sérias sobre violações sistemáticas dos direitos humanos que afetam os uigures e outros povos turcos.
Foram mencionadas pela embaixadora preocupações sobre restrições ao ensino da língua uigur e o internamento forçado de crianças em internatos, sem detalhar os locais visitados ou o que foi observado. Em fevereiro de 2021, a Câmara dos Comuns do Canadá classificou as ações do governo chinês contra os uigures, incluindo detenções arbitrárias, trabalho forçado, repressão religiosa e esterilização forçada – que resultou na redução das taxas de natalidade –, como genocídio.
Jennifer reiterou o pedido de Ottawa para que Beijing permita acesso irrestrito a especialistas independentes da ONU em todo o país, incluindo Xinjiang. Paralelamente, Memet Tohti, diretor-executivo do Projeto de Defesa dos Direitos Uigur, sediado em Ottawa, destacou a necessidade de uma “investigação imparcial” sobre as condições dos uigures, desacreditando “as ações propagandísticas chinesas”.
Durante a visita de May, organizações internacionais de direitos humanos e grupos de defesa dos uigures pediram ao atual chefe de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), Volker Türk, na última quinta-feira (20), que fornecesse uma atualização pública sobre as medidas tomadas pelo governo chinês e seu escritório para abordar a situação em Xinjiang.
“Rumores fabricados”
Na segunda-feira, a Embaixada Chinesa no Canadá emitiu uma declaração acusando o Canadá de repetir críticas baseadas em “rumores e relatórios fabricados com segundas intenções”, sem detalhar o que a embaixadora May presenciou em Xinjiang. A embaixada instou o Canadá a adotar uma abordagem objetiva e imparcial, solicitando que compartilhasse com os canadenses as observações de Jennifer durante sua visita. Além disso, afirmou que Xinjiang mantém “estabilidade social, prosperidade econômica, unidade étnica e harmonia religiosa”.
A embaixada afirmou que os direitos humanos de todos os grupos étnicos, incluindo o direito de usar e promover suas próprias línguas étnicas, são “plenamente protegidos”.
Por que isso importa?
A província de Xinjiang faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes linguísticas e étnicas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.
Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.
O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.
A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.